sábado, dezembro 29, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Parece-me que foi ontem! Chovia em São Paulo. Eu me espremia, molhado, na Av. Paulista, com outras quinze mil pessoas, para a largada da São Silvestre. O clima era de festa. Euforia impregnava o ar. Algazarra. Agitação. Vibração contagiante.

Véspera de ano novo é sempre assim, mesmo sem sol, brilha na alma a luz da esperança. Como preciso de esperança! Alimento-me de esperança. Sem ela é difícil, senão impossível, encarar a vida e seguir em frente. Dela se nutrem os meus sonhos, nela se sustenta a minha fé, revigoram-se os desejos profundos do coração, as ambições secretas da alma, as aspirações sem preço que teimam em continuar vivas.


Chovia em São Paulo na véspera de ano novo. 2006 se despedia em pranto. Céu cinzento, nuvens escuras, sol ausente. No coração, contudo, uma luz trêmula brilhava. Era o cintilar de uma estrela: a estrela da esperança. Estrelas são pontinhos distantes, solitários, cuja luz não ilumina, cujo calor não aquece. Estrelas são pontinhos mágicos que lampejam na solidão da alma. Sua luz nos conforta e nos consola em noites sombrias e sem luar.

Chovia em São Paulo naquele fim de tarde. Adiante, dois desafios que se fundiam num só: Encarar os quinze quilômetros da
São Silvestre e os trezentos e sessenta e cinco dias de um ano novo, desconhecido. Ambos logo teriam início e eu estava ali, presente: tênis no pé, lamparina da esperança na mão; pronto, ou quase pronto, para a largada.

Soa a buzina. É dada a largada. A corrida começa. A corrida começa?! Continuo parado.

Aos poucos, a massa humana começa a se mover, lentamente, ora para a frente, ora para os lados, sem coordenação. A água que caía do céu se empoçava na terra. Asfalto molhado e escorregadio: perigo à vista! Empurra-empurra: muita gente e pouco espaço. Sufoco: afobação e medo. Pernas quase paradas, coração acelerado.


Estou ali. Perdido. Por um instante não consigo me encontrar. Sou um pingo d'água na enxurrada de gente que flui morosamente pela Paulista. Sou arrastado pela multidão acéfala. Perdi a identidade, o controle, a independência, a vontade própria, o espaço onde pôr o pé. Sou conduzido, empurrado, amassado. Não existe eu, existe massa.

Na cabeça, quase um mantra: "não cair, não cair, não cair, resistir"! Ouço a voz da esperança, sussuro quase abafado pelo alarido do tropel, que me segreda palavras de ânimo, mais ou menos assim:

"Agüente aí, guerreiro,
esse momento há de passar.
Agüente firme, guerreiro,
O alívio não tarda em chegar".

Ao ouvir essa voz, em silêncio respondo:

"Doce voz da esperança,
voz de mãe que espanta o medo,
faz brotar no coração
um único e forte desejo:
sobreviver na Paulista,
superar a Brigadeiro".

Concluí mais uma
São Silvestre, desta vez sem tanta empolgação – presságio do ano porvir?... O corpo úmido e frio pedia abrigo. Afastei-me aos poucos da turba, despedi-me da Paulista, respirei fundo e olhei pra frente com confiança, levando no peito a medalha e no coração a esperança.

Hoje olho pra trás. O ano de 2007 não correu, voou. Os dias competiram entre si para saber qual deles era o mais presto em passar. As horas se irmanaram em rotina e ficaram de tal modo semelhantes, que, agora, ao tentar relembrá-las, não as consigo distinguir. Perderam-se no rio da mesmice. Enquanto escrevo, lanço o anzol nesse rio e de lá tento pescar algumas recordações. Ano difícil, de duro aprendizado. Assim o resumo:

A esperança não me abandonou,

nem eu a ela.
Andamos juntos.
Sempre sós,
de mãos dadas.

Algumas vitórias.
Algumas conquistas.
Algumas comemorações:

Ilhas solitárias de doce prazer,
no salgado mar das adversidades.

Esperança...

Algumas derrotas.
Alguns fracassos.
Algumas lágrimas:
Gotas vertidas no silêncio da alma para untar o solo árido da vida.

Esperança...

Algumas expectativas.
Alguns sonhos.
Alguns desejos:
Suspiros da alma que falam de vazios a serem preenchidos.

Esperança...

Muito labor.
Muito empenho.
Muita fé:
Confiança na vida para dar um passo adiante, apesar do medo.

Esperança
sempre!
Esperança:
Certeza sempre incerta de que o amanhã nos dará o que o hoje nos negou.

E assim despeço-me de 2007 e encaro 2008:
São Silvestre? Não.
Esperança? Sim. Sempre!
quarta-feira, dezembro 26, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Escrevi recentemente, de forma laica, a respeito do "Sentido do texto" (I Parte e II Parte). Para tanto, fiz extensivo uso de palavras. Selecionei-as atenciosamente, organizei-as com esmero, embalei-as com muito cuidado num "pacote-texto" e as publiquei neste blog na expectativa de que pudessem transmitir a outros as idéias que fluíam em minha mente.

Enquanto redigia, pensava no poder mágico das palavras; poder para expressar idéias, evocar lembranças, convencer mentes, comover corações, despertar emoções, fazer sorrir, chorar, sonhar; poder capaz de retratar em cores vivas, no palco da mente, a realidade que nos cerca e da qual fazemos parte. De acordo com Dicionário Filológico da Academia Brasileira de Letras [1] nosso universo de palavras é composto por trezentos e sessenta mil itens. E pensar que tudo isso foi construído mediante combinações de apenas vinte e três elementos simbólicos que compõem nosso alfabeto!

Palavras enfeitiçam – seduzem, atraem, cativam, encantam. Pensei em uma delas: "amarelo" e a imaginação logo se tingiu de gradações douradas e se perdeu em divagações e delírios: Será que o amarelo que meus olhos apreendem é o mesmo amarelo que outras pessoas enxergam? Creio que não. O mais provável é que, do mundo real, não percebamos as cores com a mesma clareza, nitidez e intensidade. Contudo, no mundo simbólico e mágico das letras, a palavra "amarelo" desperta em nós ligação semântica semelhante: cor de ouro, de gema de ovo, de açafrão, de canário da terra, de camisa da seleção... E no "LCD" da mente, ganha vulto e movimento a figura do rei Pelé: estampa dez no manto amarelo; soco no ar; vibração. É mais um gol da seleção...

E é nesse clima de total embriaguez no álcool das palavras que me pego indagando a respeito da palavra "palavra"... O que se pode dizer sobre ela? É possível defini-la?

Definir: estabelecer limites. Os limites de uma palavra são demarcados por espaços ou por algum sinal de pontuação. Ao definir uma palavra limitamos seu valor, restringimos-lhe o significado. Em seguida a usamos para designar, rotular, dar nome a coisas do mundo real. "Palavra" é o rótulo genérico – o nome – que usados para fazer referência a qualquer vocábulo. "Palavra" é coletivo de palavras.

O português é uma língua neolatina [2]. Nossa palavra "palavra" deriva do latim paraböla que nos remete ao grego parabolé que significa "comparação". Será que parábola e palavra são a mesma coisa?

Cresci num meio cristão. Desde cedo tomei ciência das parábolas de Jesus. Para mim, parábola e palavra nunca foram sinônimas. Conheci parábola como um recurso retórico mediante o qual Jesus transmitia preceitos morais. Eram narrativas alegóricas que faziam uso de analogia ou comparação. Cito três: A Dracma perdida; A ovelha perdida; O Filho pródigo (
Lucas 15) [3]. A propósito, qual é mesmo o significado da palavra "pródigo"? Pense um pouco.

Pródigo: sinônimo de gastador, esbanjador, perdulário. Sinônimos: palavras diferentes na escrita e semelhantes no significado. Pois é, parábola e palavra já foram sinônimas, num passado distante.

Transcorria o século IV EC quando S. Jerônimo traduziu a Bíblia para o Latim. Nascia a
Vulgata [4], versão que, mais tarde, no Concílio de Trento [5], foi declarada a oficial da igreja romana. Foi nela que "parábola" tomou o significado de "palavra", superando o uso do latim verbum [6]. Graças a Jerônimo e à popularidade da Vulgata é que hoje usamos "palavra" em lugar de "verbo". Não fosse por ele, talvez o título deste artigo seria O verbo "verbo" e não A palavra "palavra".



Referências Bibliográficas

[1] Dicionário Filológico da Academia Brasileira de Letras -
http://www.academia.org.br/ Ver também http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/lin290820012.htm
[2] Português língua neolatina -
http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_portuguesa
[3] Parábolas de Jesus -
http://www.bibliaonline.com.br/acf/lc/15
[4] Vulgata -
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vulgata
[5] Concílio de Trento -
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_Trento
[6] Hitória da palavra PALAVRA -
http://steinhardts.wordpress.com/2007/07/14/a-historia-da-palavra-palavra/
sexta-feira, dezembro 21, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Em artigo anterior, deixei sem resposta a pergunta: "O sentido do texto está no próprio texto?". Aqui tentarei encontrar uma resposta satisfatória. Entendo que uma mesma pergunta, quando direcionada a públicos diferentes, pode resultar em respostas diferentes. Em sendo assim, uma conclusão prévia já me é possível: o "sentido" não reside apenas no texto, mas depende sempre de um interpretador, a saber, o leitor. No entanto, ainda é muito cedo para concluir. Ainda estou no parágrafo introdutório.

Demonstrei, ainda no artigo anterior, que palavras são símbolos. A palavra "pão" não é pão – não mata a fome. A palavra "fogo" não é fogo – não queima. A palavra "água" não é água – não molha, nem mata a sede. Ratifico aqui essa constatação e a reforço com outra metáfora: palavra e texto são espelhos.

Um bom espelho é aquele que reflete, com o maior grau de precisão possível, uma realidade que está fora dele. Um espelho nada afirma e nada conclui por si mesmo, apenas reflete, apenas revela. O texto é um espelho diante do qual o leitor se deixa refletir, isto é, é levado à reflexão. Perante o texto o leitor se põe a especular – indaga, investiga, questiona, estuda, busca entender. "Especular" vem do latim speculum que significa espelho.

Texto é espelho, não realidade. A realidade pode ser experienciada em silêncio e sem palavras. O texto requer interpretação.

O que é interpretar?

Na antiga Roma, quando duas partes entravam em litígio, um agente era convocado para atuar como mediador. A esse agente davam o nome de "interpres". Os sacerdotes também eram tratados como "interpres" - mediavam entre os deuses e os homens; traduziam os oráculos divinos e os apresentavam aos homens. "Interpretar" é traduzir, é pôr-se no meio, é construir ponte. Entre texto e realidade também se faz necessária uma ponte, um "interpres": o leitor.

Recorramos agora a um exemplo bastante conhecido pela comunidade cristã, a eucaristia. Pouco antes de seu julgamento e crucificação, Jesus reuniu seus discípulos para a última ceia. A certa altura, tomou o pão, repartiu-o com todos e lhes disse: "Tomai e comei, este é o meu corpo". Em seguida, serviu-lhes o vinho, acompanhado pelas palavras: "Isto é o meu sangue". (Marcos, 14:22-24).

O que Jesus quis dizer com isso? É possível recuperar o significado original desse texto?

Quando o autor ainda está presente entre nós, podemos endereçar-lhe perguntas como essas, mas não é este o caso. Esse fato ocorreu há dois mil anos e, de lá para cá, muitas gerações se sucederam e com elas surgiram diversas interpretações.

Os teólogos católicos, por exemplo, optaram pela interpretação literal. Ao participar da eucaristia, o crente, de fato, come a carne e bebe o sangue de Jesus. Mediante as palavras do padre um milagre acontece: a transubstanciação. Eucaristia é antropofagia!

No Brasil colônia, em certas circunstâncias, o canibalismo era praticado. Guerreiros de tribos rivais, quando aprisionados, eram devorados, porque se acreditava que, dessa forma, tomava-se posse de sua força e bravura. É em algo parecido que acreditam os cristãos católicos. Ao se alimentarem com o verdadeiro corpo e sangue de Jesus, transubstanciado, estão tomando posse da santidade e pureza que a Ele pertencem.

Lutero não concordou com isso e propôs uma interpretação alternativa. Para ele o pão e o vinho não têm sua essência alterada, mas a ela se juntam a essência do corpo e do sangue de Jesus. A esse fenômeno chamou de consubstanciação.

Calvino foi além e viu nas palavras de Jesus apenas simbolismo.

Afinal, qual desses personagens capturou o sentido original do texto, aquele que Jesus tentou passar a seus discípulos? Posso hoje afirmar que uma dessas interpretações é mais correta que as demais? Aqui cabe o bom senso. Particularmente, hesito em acreditar em milagres. Por isso não me identifico com a interpretação católica, mas há muitos que a preferem.

E você, o que prefere? A interpretação dos pais da Igreja, de Lutero, de Calvino, ou outra qualquer?

Retomo a pergunta que motivou esse artigo: O sentido de um texto está no próprio texto? Eu já encontrei a minha resposta. E você?
quinta-feira, dezembro 20, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
À guisa de introdução, considere as "pegadinhas com pontuação" apresentadas abaixo.

1. Pontue as duas frases abaixo e descubra o siginficado de cada uma delas.

  1. Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe do fazendeiro era também o pai do bezerro.
  2. Maria toma banho porque sua mãe diz ela traga a toalha.

2. Pontue a frase abaixo de duas maneiras distintas para obter resultados diferentes.

  1. Carolina nossa secretária comprou um automóvel.
  2. Carolina nossa secretária comprou um automóvel.

3. Novamente: Pontue a frase abaixo de duas maneiras diferentes para obter resultados antagônicos.

  1. Irás voltarás não morreras.
  2. Irás voltarás não morreras.
Antes de apresentar a pontuação correta das questões acima, vamos refletir um pouco sobre o título desse artigo: "O Sentido do Texto".

A palavra "sentido" pode assumir significados diferentes (veja alguns
aqui). Neste artigo, emprego-a como "aquilo que uma palavra ou frase pode significar num contexto determinado"[1]. Sentido aqui, portanto, implica em significado. Já a palavra "texto" refere-se, neste contexto, a um conjunto de palavras organizadas de modo a transmitir uma idéia. "Idéia", por sua vez, é a representação mental de alguma coisa concreta ou abstrata.

Não sei se me fiz claro o bastante... Vou tentar novamente. A coisa funciona mais ou menos assim:
  1. Primeiramente, tenho uma idéia;

  2. Em seguida, tento reproduzir essa idéia por meio de palavras. Palavras são "símbolos", isto é, algo usado para representar outra coisa. A palavra "fogo", por exemplo, evoca à mente um determinado fenômeno de natureza abrasiva. Posso, contudo, escrevê-la num papel e tocá-la sem medo de me queimar, isto porque a palavra "fogo" é um símbolo e, portanto, não possui a capacidade de entrar em combustão. De igual modo, as palavras que uso para representar a "minha idéia" não se constituem na idéia em si. São uma tentativa de revelá-las, uma aproximação simbólica daquilo que de fato é, em minha mente.

  3. Por fim, o conjunto de palavras usadas para descrever a "minha idéia" compõe um texto.

Com o texto pronto e publicado, entra em cena um outro ator – o Leitor. O leitor é aquele garimpeiro que explora o texto e percorre as palavras em busca de sentido. Mas será ele capaz de encontrar o "sentido original" - a minha idéia - que fomentou a elaboração do texto?

Ao considerar as três pegadinhas acima, noto que, se eu, enquanto escritor, cometo deslizes na aplicação da pontuação, meu texto se mostrará desprovido de sentido para o leitor. Vejo aqui uma relação direta de causa e efeito entre escrever com pontuação adequada e a absorção do sentido por parte do leitor.

Retornemos agora às pegadinhas propostas acima:
  1. Solução da primeira pegadinha:

    • Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe. Do fazendeiro era também o pai do bezerro.
    • Maria toma banho porque sua. Mãe, diz ela, traga a toalha.

  2. Na segunda pegadinha observamos que uma mesma frase, pontuada de forma diferente, assume significados diferentes:

    • Carolina, nossa secretária, comprou um automóvel.
    • Carolina, nossa secretária comprou um automóvel.

  3. Na última pegadinha, a pontuação não só altera o significado como conduz a conclusões opostas. Observe:

    • Irás. Voltarás. Não morrerás.
    • Irás. Voltarás? Não. Morrerás.
Ficam aqui registradas algumas outras questão importantes a serem consideradas:

  • A pontuação adequada é garantia suficiente de que o "sentido original" do texto será recuperado?
  • Existe algum tipo de "DNA" no texto que possa ser decifrado com segurança, viabilizando assim o resgate do significado original?
  • O sentido do texto está no próprio texto?

Referências Bibliográficas:

[1] Houaiss, verbete "sentido" - http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=sentido&stype=k
[2] Michaelis, verbete "sentido" - http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=sentido
quarta-feira, dezembro 19, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Encare o texto abaixo como um desafio. Fixe os olhos e deixe que a mente decifre corretamente o que está escrito. Boa sorte!

35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 A SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R D3 P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O! 4 SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5!

Entendeu ?

domingo, dezembro 16, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Gosto de correr, mas não da correria de cidade grande. Correr me dá liberdade; correria me impõe escravidão. Correr me alimenta com endorfina; correria me desnutre com rotina. Correr me dá asas – posso voar; correria me acorrenta – não posso nem andar... Correr me insufla ânimo: estou vivo; correria me asfixia: estou morto... Correr faz de mim criança; correria me lembra que sou adulto.

Quero correr, mas a correria não deixa. Não tenho tempo. Sempre atrasado. Saio cedo. Chego tarde. Trânsito louco. Muito trabalho. Mil compromissos. Tantas responsabilidades... Ah, sou adulto! E não sinto o dia passar, nem vejo a semana escorrer... Só correria, quanta correria; nenhuma corrida!

Quero calçar um tênis, vestir um short e correr por aí - sentir o sol no corpo, o vento no rosto e, da vida, o gosto que a correria torna insosso...

Quero correr. Simplesmente correr, sem rumo, sem meta. Puro prazer. Prazer que a corrida me dá, que a correria me suga.

E assim, mais uma semana se foi... No placar, goleada da correria.

Mas sou teimoso e tenho fé. Pode crer: voltarei a correr, um dia...
sábado, dezembro 15, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
George Carlin é um autor, ator e comediante americano. Muito popular por lá, quase desconhecido por aqui. Ousado. Corajoso o suficiente para abordar este tema delicadíssimo com competente sarcasmo. Não foi à toa que o premiaram com o Grammy!

Como é a interação dele com o público? Como a platéia reage as suas provocações?

Em muitos ele desperta, com facilidade, o sorriso. Em outros, reflexão profunda. E também há aqueles que se sentem desrespeitados em sua fé. Sim, atingidos por setas cruéis, impiedosamente disparadas por lábios profanos, que fazem, da fé alheia, motivo de galhofa... Parece-me que ninguém fica imune a ele!

E em você, que reação é (ou será) despertada por George Carlin?

Segue, em itálico e cor azul, parte do que é dito por ele logo no início do vídeo a que você poderá assistir em seguida.

... Quando o assunto é besteira, besteira de verdade... deve-se tirar o chapéu em admiração para a grande campeã de falsas promessas e declarações exageradas: A Religião, sem dúvidas. Sem sombra de dúvidas.

Na Religião se encontra o maior papo-furado já dito na história. Imagine só: A Religião chegou a convencer as pessoas de que existe um "homem-invisível", morando no céu, que vê tudo o que você faz – todo dia, a todo instante.

E o "homem-invisível" tem uma lista especial de dez coisas que não quer que você faça. E se você fizer qualquer uma dessas dez coisas, Ele tem um lugar especial – cheio de fogo, fumaça, ardor, tortura e angústia – para onde o enviará, para sofrer e se queimar e se sufocar e gritar e chorar para todo o sempre, até o fim dos tempos... Mas ele te ama!

Ele te ama. Ele te ama e precisa de dinheiro. Ele sempre precisa de dinheiro...



Fonte:http://www.youtube.com/watch?v=JGwAEhkmsSU



sexta-feira, dezembro 14, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo.
O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea.
Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.

Você concorda?
sexta-feira, dezembro 14, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Escrevi aqui, recentemente, a respeito desse tema. Na ocasião, olhando para o alto, contemplei planetas e estrelas em escala progressiva de grandeza e me percebi dominado por sentimentos antagônicos de profunda admiração e enorme desalento.

Profunda admiração porque não há como não ficar comovido e maravilhado - deslumbrado, fascinado, encantado, arrebatado, extasiado - diante de tanta grandeza, beleza e mistério.

Enorme desalento porque me dei conta, por contraste, de minha pequenez, insignificância e nulidade... e é sobre essa pequenez que me detenho a pensar agora.

Sou, de fato, tão pequeno assim? Num universo em que impera a relatividade, não é sensato fazer afirmações de natureza absoluta. Serei pequeno ou grande sempre em relação ao referencial adotado e esse referencial, quem o elege, sou eu.

Se me comparo ao Universo - esse "não sei o quê", que se mede em bilhões de anos luz - é natural concluir em favor de minha insignificância. Sim, sou efêmero, sou fugaz, transiente como uma gota de orvalho que logo evapora, que se despede sem deixar rastro ao ser tocada pelo sol da manhã...

Mas se inverto o sentido do olhar, se substituo o telescópio pelo microscópio e vagueio pela imensidão de meu ser, constato, para meu espanto, que eu mesmo sou um universo... Como bem disse Rubem Alves num arroubo de eloqüência poética:

"... sinto que no meu corpo moram
rios,
árvores,
montanhas e
nuvens..." (2)

O título do artigo "O condomínio chamado corpo humano" é bastante sugestivo. Somos habitados por mais de 10 bilhões de bactérias. "A quantidade de bactérias em nosso corpo, principalmente no trato intestinal, pele e cavidades, é muito superior ao número de células do mesmo, e o mais preocupante, só se conhecem cerca de 50% delas". (4)

Outro dia fiquei sabendo que cerca de 5% de nossa massa é composta por microorganismos (cerca de 3 kg numa pessoa de 60 kg e 4 kg numa de 80 kg). Diante dessa constatação fico a me perguntar se sou "um" ser ou um ecossistema? E as divagações prosseguem: Como será que um desses "meus" microorganismos me enxerga? Talvez aos olhos dele eu seja um Universo de tamanho inimaginável... Talvez ele suspeite que eu não seja único, que existam outros "Universos paralelos" semelhantes a mim...

O vídeo abaixo, que traz como título "O Universo macroscópico e o microscópico" nos conduz numa viagem interessante que começa em uma praça em Veneza e se estende até os confins do universo conhecido. Em seguida mergulha numa gota d'água, penetra num microorganismo e se aprofunda até atingir as fronteiras infinitesimais... E, no final, o "muito pequeno" e o "muito grande" se irmanam numa só palavra: Mistério!

A viagem é curta, não mais que dez minutos, mas em um universo onde tudo é relativo, não se espante se ela lhe parecer mais longa...


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=t2wi5AEF2cA

Referências Bibliográficas.
  1. Transparências da Eternidade - Rubem Alves, Verus Editora 2002, 4a Edição, pág. 105.
domingo, dezembro 02, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Algumas palavras mudam de significado com o tempo e o uso. Em alguns casos seu significado original é enriquecido, em outros obliterado completamente. Vejamos alguns exemplos:

Amor – Originalmente possuía um sentido passivo, indicando a "qualidade de ser amado". Atualmente assumiu um sentido ativo indicando o "sentimento de amar".

Conversar – Originalmente significava "encontrar-se habitualmente num mesmo local, freqüentar, conviver". Atualmente é usada como sinônimo de falar, trocar palavras e idéias com alguém.

Cunhado – Do latin cognato, significava "nascido do mesmo sangue". Hoje quer dizer "parente por afinidade".

Insultar – Perdeu o sentido material de "saltar sobre" e passou a significar "atacar, investir contra, afrontar, ofender".

Solteira – Originalmente significava "aquela que vive às soltas", meretriz, prostituta. Atualmente significa mulher não casada.

Como último exemplo desse fenômeno em ação, consideremos o que vem acontecendo com a palavra "cidadania", cujo uso na mídia tem-se intensificado recentemente.

No que diz respeito à origem etimológica, "cidadania" e "política" deveriam despertar em nós a mesma reação significante. Ambas fazem referência à vida em sociedade, às qualidades ou condições do cidadão, isto é, do indivíduo livre e membro de um Estado que a ele garante direitos civis e políticos e dele exige o cumprimento de deveres e obrigações. Esse era o significado comum a essas palavras em suas respectivas nações de origem, a saber: romana e grega.

Mas é assim que entendemos "cidadania" e "política" hoje?

De fato, não. Há uma tendência de rejeição à "política" e de valorização à "cidadania", rompendo assim com o vínculo de natureza semântica existente entre elas. À "cidadania" atribuímos um sentido honroso, nobre, positivo. À "política" associamos o oposto: sujeira e corrupção. Nota-se, desse modo, que a palavra "cidadania", embora ainda conserve seu significado original, vem se enriquecendo pelo uso recente, tornando-se, ao senso comum, superior à palavra "política".

Mas, afinal, o que "cidadania" significa hoje? Aos meus ouvidos parece soar, acima de tudo, como "direito a não exclusão", o que pode ter tudo ou nada a ver com seu sentido etimológico original.

Terá tudo a ver se pensarmos que tanto nas antigas Grécia e Roma nem todos eram considerados cidadãos. Nem todos podiam participar ativamente da vida em sociedade. Havia os excluídos, entre os quais se encontravam os escravos, as mulheres e os estrangeiros. Enfim, nem todos eram cidadãos. Com a atual expansão de significado, "cidadania" deixa de ser privilégio apenas de uma elite e passa a ser um direito de todos que, com voz e voto, podem influenciar no destino do Estado a que pertencem.

Contudo, a palavra "cidadania" terá seu significado desvirtuado se a restringirmos apenas a atos de caridade e políticas assistencialistas; se entendermos por "excluídos" apenas os pobres ou os integrantes de alguma minoria étnica; se não nos atermos ao fato de que a maior exclusão é aquela que priva o ser humano do direito de fazer pleno uso da razão, de ser um agente cognitivo, de agir a partir da própria compreensão de que faz parte do todo maior – a sociedade em que vive – exigindo dela seus direitos e cumprindo para com ela seus deveres.

Infelizmente, parece-me que no Brasil estamos mais inclinados a entender "cidadania" pelo viés do assistencialismo e assim rompendo definitivamente com a semântica da palavra, mas não por obra do acaso. Sabemos que cidadãos inconscientes, ignorantes, são facilmente ludibriados pela classe política, esta sim, uma elite recheada de alienados egocêntricos que teimam em se ver como únicos e verdadeiros cidadãos.

Não é à-toa que, para a maioria de nós, "cidadania" e "política" não tenham o mesmo significado.


Referências Bibliográficas:

"O ir e vir semântico: Latim / Português" -
http://www.filologia.org.br/revista/35/08.htm
"A semântica latina e suas curiosidades" -
http://www.paratexto.com.br/document.php?id=2323
"Dicionário da Língua Portuguesa" -
http://houaiss.uol.com.br.
sábado, dezembro 01, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
O vídeo que disponibilizo abaixo oborda um tema que, a princípio, pode lhe parecer pura ficção ou fantasia "hollywoodiana", mas não é. Trata-se, na verdade, de uma excelente produção da BBC, ancorada nas mais recentes pesquisas científicas no campo da fisica e que, entre outras coisas, tenta explicar o que aconteceu antes do Big-Bang. São quase 45 minutos de duração nos quais você contará com a participação de vários especialistas, os quais poderão ser melhor conhecidos clicando aqui.

Mas antes de assistir ao vídeo, leia o texto abaixo, que foi extraído da introdução do próprio documentário e sinta um pouco do sabor que o aguarda:

BBC World

Por mais de cem anos a ciência tem sido perseguida por um segredo obscuro: que talvez existam mistérios escondidos além dos sentidos humanos. Os místicos há muito tempo proclamam a existência de tais lugares. Eles estão, dizem, cheios de fantasmas e espíritos. A última coisa que a ciência queria era ser associada com tal superstição, mas desde a década de 1920 os físicos tem tentado dar sentido a uma desconfortável descoberta. Quando tentaram demarcar a exata localização de partículas atômicas como o elétron descobriram ser totalmente impossível. Eles não têm uma única localização.

Alan Guth

Quando se estudam as propriedades dos átomos, descobre-se que a realidade é muito mais estranha do que alguém pudesse inventar na forma de ficção. As partículas realmente têm a possibilidade de, de alguma forma, estarem em mais de um lugar ao mesmo tempo.

BBC World

A única explicação que se pode tirar é que as partículas não existem apenas no nosso Universo. Elas migram para a existência em outros universos também e existe um número infinito destes universos paralelos, todos eles ligeiramente diferentes. Na verdade, existe um universo paralelo no qual Napoleão venceu a Batalha de Waterloo. Em outro, o Império Britânico manteve o controle sobre suas colônias Americanas. Em outro, você nem nasceu.

Alan Guth

Essencialmente, todas as possibilidades podem acontecer em um destes universos alternativos, o que significa que sobreposto ao Universo que conhecemos está um universo alternativo onde Al Gore é o Presidente e Elvis Presley ainda está vivo.

BBC World

Esta idéia era tão desconfortável que por décadas os cientistas a repudiaram, mas com o tempo os universos paralelos fariam um retorno espetacular. E dessa vez seria diferente, muito mais estranho do que a presença de Elvis Presley.

Gostou? então não perca tempo e assista ao documentário agora mesmo!



Fonte:
http://br.youtube.com/watch?v=o9LV9vaGxJQ
sexta-feira, novembro 30, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Durante muito tempo acreditamos que o universo fora criado para nós. Acreditávamos também que tudo nele – lua, sol, estrelas, galáxias – orbitava em torno da nossa casa, o planeta Terra...

A animação abaixo nos mostra o quanto estávamos enganados. Nosso pequeno planeta não parece merecedor da imporância que atribuíamos a ele e nós, pobres mortais, somos como se não fôssemos...

Não se esqueça de aumentar o som.


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=8N7i-HyRI7A
quarta-feira, novembro 28, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Parece natural que se viva um dia de cada vez. Porém, na prática, não é bem isso que acontece. Fisicamente estamos sempre aqui, não, porém, com a mente. Esta se sente livre para vaguear no tempo, navegando ora nas águas turvas do passado, ora nos mares desconhecidos do futuro. Viver no presente, isto é, permanecer integralmente aqui e agora, requer o equilíbrio que a maioria de nós não aprendeu a cultivar.

Ditados populares tais como "viva um dia de cada vez" ou "viva o hoje pois o ontem se foi e o amanhã talvez não chegue", estimulam-nos a viver sabiamente no hoje. Contudo, esse incentivo reconhecidamente frágil perde-se como água em terra seca diante da onipotente presença de provocações contrárias e constantes, que nos instigam a abandonar o "agora" recuando para o "antes" ou avançando para o "depois". Hei-las inseridas na propaganda consumista, embutidas nas telenovelas, camufladas nas propostas de educação para o trabalho, implícitas e explícitas até mesmo na mais corriqueira conversa informal. Como exemplo, vale lembrar aquela pergunta ingênua dirigida a quase toda criança: "o que você vai ser quando crescer"?

Não há crime em planejar o futuro, antes, tal atitude é necessária e deve ser estimulada. De igual modo, relembrar o passado não pode e nem deve ser considerado um delito. Ter uma história e refletir sobre ela é um dos diferenciais que nos caracterizam como humanos e nos elevam a um patamar acima daquele ocupado pelos animais irracionais. O que nos falta, na minha opinião, é o equilíbrio para lidar com o passado e o futuro, na medida certa, de modo a dispor de tempo para o tempo que se chama "presente" – dádiva a ser desfrutada agora, com prudência e gratidão.

Vejamos alguns conselhos que talvez possam nos ajudar na difícil tarefa de viver um dia de cada vez:

Dalai Lama: "Só existem dois dias do ano sobre os quais nada pode ser feito. Um deles se chama ontem e o outro amanhã. Portanto hoje é o dia certo para você amar, sonhar, ousar, produzir e acima de tudo acreditar...".

Charles Chaplin: "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos".

Carlos Drummond de Andrade: "A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional".

Anônimo: "Viva cada dia como se fosse o último - um dia você acerta".
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segunda-feira, novembro 26, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges

Quem é Godot?

Essa foi a pergunta que muitos fizeram em 1953, após a estréia da peça "Esperando Godot" de Samuel Backett, considerado um dos principais nomes do chamado teatro do absurdo e laureado em 1969 com o prêmio nobel de literatura.

"Esperando Godot" é uma obra curiosa!

As cortinas se abrem para o primeiro ato. Duas pessoas amigas e aparentemente desocupadas são vistas em um lugar indefinido, com um propósito aparentemente definido: esperar por Godot. Um deles rompe o silêncio com a frase: "nada a fazer". O tempo passa lentamente embalado por um diálogo trivial que só é quebrado com a chegada de dois outros personagens vagabundos e exóticos. A conversa prossegue sem muito nexo, até que um garoto aparece para dizer-lhes que aquele a quem esperam, Godot, não virá hoje; talvez amanhã...

O segundo ato é muito semelhante ao primeiro, com um encerramento pra lá de absurdo. Um personagem diz "Devemos partir?" ao que o outro responde "Sim, vamos". Mas ambos permanecem no mesmo lugar.

Talvez seja mera coincidência a semelhança entre os nomes Godot e God (Deus, no idioma do autor). Coincidência ainda maior parece existir entre o título "Waiting for Godot" (Esperando Godot) e a expressão vulgar anglo-irlandesa "Waiting for Godda" (Esperando Deus), o que me leva a relacionar essa peça à grande esperança que embala a vida dos cristãos quanto ao retorno de Jesus a este mundo.

A população brasileira é predominantemente cristã. De acordo com o censo demográfico de 2000 realizado pelo IBGE, 90% dos brasileiros se declaram cristãos. Sabe-se que boa parte destes não é praticante, contudo, é razoável supor que um número significativo de conterrâneos esteja esperando por algo: Esperando Jesus (ou esperando Godot?).

Faz sentido essa espera? O que se faz durante esse esperar? E quando se anuncia que ele (ou Ele) não virá hoje, talvez amanhã, como reage o crente?

Um ato se encerra e outro tem início. Os personagens se revezam no palco da vida. O tempo passa. Os anos acumulam-se em séculos e milênios. O drama prossegue. A espera parece não ter fim. O que é mesmo que se espera?

O que dizer de tudo isso que, para alguns, não passa de um absurdo irracional, enquanto para outros constitui-se na mais genuína experiência de fé?

sexta-feira, novembro 23, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Após uma semana de trabalho árduo, cheguei em casa ainda banhado pelos raios dourados do sol de primavera. A tarde bonita se fazia ainda mais bela por preceder um fim de semana! Irresistível! Resolvi aproveitá-la fazendo algo que muito me apraz: Correr!

Coloquei rapidamente uma roupa leve, tênis, monitor de batimentos cardíacos, sensor inercial de velocidade e saí para umas voltinhas, aqui mesmo no bairro. Nem o sobe-desce do percurso nem o vento frio foram capazes de me tirar o prazer e a sensação de liberdade que a corrida me proporciona. Foram apenas quatro voltas de 1.800 metros (7.200 metros) percorridos em 39min46. Parei, sentindo o forte desejo de continuar..., mas como estou me recuperando de uma lesão no tendão de Aquiles considerei mais prudente não ceder à voz do desejo.

Sobre o monitor de freqüência cardíaca, uso o modelo RS200sd da Polar (imagem ao lado). Ele possui muitas funcionalidades que podem ser consultadas no site do fabricante clicando aqui. O aparelho é interessante e possui cinco painéis de exibição de dados que podem ser configurados previamente e alternados durante a corrida. Na figura ao lado, é exibido um desses painéis. Observa-se, na primeira linha, a velocidade instantânea em quilômetros por hora; na segunda o tempo total de exercício; e na última a freqüência cardíaca atual.



sexta-feira, novembro 23, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges

Anteontem à noite perdi meu precioso tempo assistindo à fraca exibição da seleção brasileira (Brasil 2 x 1 Uruguai). Não entendo muito de futebol. Sendo mais honesto, não entendo quase nada, mas desde cedo ouvi dizer que vivo no país do futebol e que "nossos" atletas são melhores do que os outros. Por ouvir afirmações dessa natureza desde cedo, cresci acreditando nelas. Mas há anos venho desconfiando da veracidade dessa crendice popular. Será que vivo mesmo no país do futebol?

Parece-me que nos transformamos em exportadores de mão-de-obra (ou matéria-prima?) para torneios de futebol rentáveis como o espanhol e o italiano. Jogar bola no "país do futebol" está deixando de ser um bom negócio. Quem permanece aqui, dificilmente terá condições de concorrer com os "estrangeiros" e ser integrado à seleção nacional. Por outro lado, quem sai daqui e se dá bem lá fora parece perder a motivação para defender a seleção...

Para mim, se o Brasil algum dia foi o país do futebol, hoje não o é mais. Não pode ser!

Minha primeira dúvida (quase desapontamento) a esse respeito surgiu nos anos 70, em meio à euforia do terceiro título mundial. Naquele tempo, morando no interior e sem TV em casa, descíamos em família até o centro da cidade para acompanhar alguns jogos numa "caixinha fantástica" que encantava os adultos e exibia imagens em preto-e-branco. Eu era muito novo para captar todas as nuances envolvidas naquele evento que se desdobrava ainda sob forte influência do regime militar, mas me sentia profundamente contagiado pela magia do momento e pelo entusiasmo da multidão que despertava em mim até mais interesse que as cenas monótonas e aparentemente repetitivas exibidas na telinha descolorida. Foi nesse contexto que aprendi que éramos os melhores e essa descoberta foi, em si, a primeira surpresa não muito agradável.

Deixe-me tentar ser mais claro. No início dos anos 70 as crianças, entre as quais me incluía, não tinham tanto acesso a informações quanto hoje. Não havia internet e os demais veículos de comunicação não eram tão ágeis quanto os atuais. A vida transcorria em "câmera lenta". Meu mundo se restringia à família e a alguns amigos, numa pacata cidade do interior. Até então, para mim, o Brasil não era o melhor, era o único. Descobri que existiam outros... Isso seria bom ou ruim? Ainda não sabia, mas fiquei ciente de que o desconhecido causava em mim desconforto. Mas os outros, os quais desconhecia por completo, nos eram inferiores. Éramos os melhores. Que alívio!

Melhores em quê? No futebol? Não. Em tudo! Assim pensava enquanto infante. O tempo, contudo, se encarregou de desvelar-me a verdade nua e crua. Os indicadores sociais, políticos e econômicos não nos eram favoráveis. Restava-se agora, como último consolo, a crença em nossa superioridade no futebol.

Mas hoje essa certeza não mais me acompanha e há muito deixou de me consolar. Não me parece que a última apresentação da seleção tenha sido um caso isolado. Fiquei convencido de que, pelo menos no futebol, podemos contar quase sempre com a sorte. Não temos a raça uruguaia, mas temos sorte! Não temos o amor à camisa dos argentinos, mas temos sorte! Não temos a organização dos países europeus, mas temos sorte!

Até quando poderemos contar com essa sorte?

quarta-feira, novembro 21, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges

Compromisso - essa palavra é antiga e já estava em uso antes que Cabral aportasse por aqui em 1500 EC. Significa acordo, convenção, tratado, promessa formal, obrigação mais ou menos solene assumida por uma ou mais pessoas, comprometimento (Houaiss). Não é isso que busco ao começar a dar vida a esse blog.

Talvez a expressão usada "dar vida a esse blog" seja, por demais, pretensiosa. Afinal, o que é vida? Não sei, mas posso assegurar que, neste texto, a palavra "vida" é empregada com acepção bastante restrita, como sinônimo de conteúdo, forma, substância, recheio. Em outras palavras, o termo "vida" é aqui utilizado com pouco compromisso.

Fiz uma pesquisa rápida e constatei que um boa parte dos blogs que nascem, "morrem" cedo, isto porque deixam de ser alimentados com aquilo que lhes dá vida: o conteúdo. O que fazer, então, para escapar dessa sina, sem transformar essa atividade em um suplício? Afinal, o que pretendo é apenas relaxar um pouco e me desligar das muitas obrigações do dia-a-dia, abordando temas variados, sem a profundidade dos blogs sérios – profundidade essa que muito admiro e que lamento não possuir.

Ainda não tenho resposta para essa indagação, mas alimento a esperança de que encontre pretextos suficientes para redigir e publicar alguns textos, com certa freqüência, para que esse blog não se transforme em mais um fiasco digital.

Vamos tentar! O primeiro texto foi escrito!

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