terça-feira, fevereiro 24, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Choveu à noite e dia amanheceu nublado. É meu último dia de folga e resolvi torná-no inesquecível. Sem pressa fui me preparando para uma "corrida de exploração", isto é, em local onde não estou acostumado a treinar. Saí de casa por volta das 9:30h da manhã, caminhando tranquilamente, sem pressa, em ritmo de feriado,até um ponto de ônibus. Ali fiquei por uns 40 minutos até que primeiro ônibus deu o ar da graça. Destino: Praça da Bandeira. Ótimo. É pra lá mesmo que eu quero ir. Caía uma garoa muito fina sobre a cidade. A temperatura era amena e favorável à prática de esporte.

O ônibus seguiu por um percurso pouco convencional. Dobrou na Geovanni Gronchi e, em seguida, à direita, em direção ao Parque Burle Marx. Fiquei observando os prédios imponentes que, aos poucos, foram cedendo lugar para casas magníficas, espaçosas, protegidas por muros altos e cercas elétricas. As ruas, quase vazias, eram ladeadas por árvores frondosas. Estava no bairro do Morumbi, palavra derivada do tupi-guarani "morundu-obi" que quer dizer "morro ou colina verde". Ainda há muito verde por aqui. Belo bairro, mas para poucos. Eu, por aqui, só de passagem.

O ônibus segue seu percurso e cruza o rio Pinheiros, pela ponte Cidade Jardim. Lembrei-me que o rio recebeu esse nome devido a abundância de araucária (pinheiro brasileiro, ou pinheiro-do-paraná) que crescia naturalmente por aqui. O cenário hoje é outro: concreto e asfalto roubaram o espaço no qual os pinheiros vicejavam e o rio, outrora belo e limpo, mais se assemelha hoje a um esgoto a céu aberto.

Não foi só o rio que mudou. São Paulo não é mais a mesma. Está em constante processo de transformação. Deixou, há muito, de ser a Piratininga dos Tupiniquins. Esses, até o início do século XVI, tinham por hábito descer até o litoral na época da piracema, de onde traziam peixes em abundâncias, que eram conservados para consumo ao longo do ano. Daí o nome "Piratininga", que em tupi-guarani, quer dizer "peixe seco". São Paulo já foi a Piratininga dos tupiniquins, hoje, a São Paulo de "pedra e cal", é cidade de todos e de ninguém.

Enquanto me perco em divagações, o ônibus percorre a 9 de Julho e estaciona da Praça da Bandeira. Está na hora de voltar pra casa usando as pernas que Deus me deu. Aciono o sensor de velocidade, o freqüencímetro e disparo o cronômetro. Começa o meu êxodo. (ponto de partida: circulo vermelho na foto ao lado).

Hoje espero superar a barreira dos 10 Km diários.

Atravesso a passarela e dou de cara a forte subida da rua do Ouvidor, seguida por outra que leva até o Largo São Francisco e de lá até a temida subida da Brigadeiro, conhecida por todos que já participaram da São Silvestre. No começo, correr é fácil, por isso a subida não me assustou, embora os tendões reclamassem devido à falta de aquecimento.

Cruzei a imponente Av. Paulista e segui, ladeira à baixo, pela própria Brigadeiro. De lá do alto a visão é panorâmica tendo, ao fundo, o parque do Ibirapuera. Percebi o quão longe estava de casa e resolvi pisar no freio para não faltar gás mais adiante. Com mais de 5 Km percorridos, abandonei a Brigadeiro e segui em direção à República do Líbano, contornando o parque do Ibirapuera, que em tupi-guarani quer dizer "madeira apodrecida". Isso aqui já foi uma região pantanosa e de pouco valor. Hoje é um dos metros quadrados mais caros da cidade. Gosto muito dessa região, mas não é pra mim. Ibirapuera, só a passeio.

Minha jornada prossegue pela Alameda dos Arapanés (paralela à Av. Ibirapuera), onde encarei mais uma subida. O ritmo caiu e permaneceu baixo. A primeira fase da corrida (" puro prazer") já havia cedido lugar à fase de "concentração total". Precisava poupar energia, pois ainda estava muito longe de casa.

Um quilômetro adiante, dobrei na Jacira e alcancei a Av. Ibirapuera, na altura do viaduto dos Bandeirantes. Aqui a avenida muda de nome, passando a se chamar Vereador José Diniz. Sigo em frente e completo 10 Km em 0:54:21h.

Finalmente havia superado a barreira dos 10 Km. Sentia-me bem, mas incomodado em saber que ainda faltavam outros 10 Km para chegar em casa. Comecei a pensar que havia exagerado na dose. Correr 20 Km hoje parecia estar além de meu limitado condicionamento físico. O que fazer?

Ainda na Vereador José Diniz, cruzo a Av. Roberto Marinho e pouco adiante faço algumas manobras em busca da Av. Santo Amaro. Encaro mais uma subida, dobro aqui e acolá e chego lá, uns trezentos metros antes do cruzamento com a Roque Petroni Junior. A partir daí começa uma subida de uns mil e quatrocentos metros. Que sufoco. Quem passa de carro não percebe, mas para quem já havia corrido quase 12 km não estava nada fácil. Abaixei a cabeça e segui em frente.

Ao passar pela estátua do Borba-Gato, notei que as panturrilhas reclamavam bastante. Precisava me cuidar. Parecia-me que faltariam pernas para percorrer os sete ou oito quilômetros que me separavam do descanso, isto é, de minha residência. Comecei a procurar alternativas e lembrei-me que poderia seguir direto até Santo Amaro e de lá pegar o Metrô. E assim fiz. Abandonei a Av. Santo Amaro e segui pela Adolpho Pinheiros até que o relógio apitou informando-me que já havia percorrido 15 Km. Para mim já estava de bom tamanho. Parei o cronômetro e segui trotando por mais uns seiscentos metros até encontrar uma mercearia, na qual comprei uma latinha de Coca-Cola estupidamente gelada. Que maravilha!

E assim vou me despedindo do feriado de carnaval. Nos últimos cinco dias, foram 47 quilômetros de muito suor, emoção e prazer. As panturrilhas reclamaram, mas agüentaram e, pela primeira vez no ano, consegui correr por mais de 10 quilômetros. Amanhã, quarta-feira de cinzas, tudo voltará ao normal e, desse carnaval, ficarão boas lembranças e muita saudade.

Desci as escadarias do Metrô e fiquei aguardando o trem por uns cinco minutos. Poucos tempo depois já estava em casa, tomando um belo banho.

Resumo do treino:


segunda-feira, fevereiro 23, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
O título desta postagem foi extraído de um artigo publicado pela Folha de São Paulo em 22/02/2009. O autor é o conhecido brasileiro e professor de física teórica Marcelo Gleiser.

Reproduzo, abaixo, partes desse artigo (destacando alguns pontos em negrito). Mais abaixo, disponibilizo links para aqueles que desejam ter acesso ao texto na íntegra.

"Como escrevi em colunas recentes, neste ano celebramos dois grandes aniversários. O primeiro, o bicentenário do nascimento de Charles Darwin e o sesquicentenário da publicação de seu revolucionário "A Origem das Espécies". O segundo, os quatrocentos anos da publicação do livro "Astronomia Nova", em que Johannes Kepler mostrou que a órbita de Marte é elíptica, inferindo que todas as outras seriam também. No mesmo ano, 1609, Galileu Galilei apontou o seu telescópio para os céus mudando a astronomia para sempre.

Em ambos os casos, as descobertas científicas criaram sérios atritos com as autoridades religiosas. Atritos que, infelizmente, sobrevivem de alguma forma até hoje, principalmente com as religiões monoteístas que dominam o mundo ocidental e o Oriente Médio: judaísmo, cristianismo e islamismo. O momento é oportuno para iniciarmos uma reavaliação das suas causas e apontar, talvez, resoluções. (...)

O mundo mudou, a sociedade mudou, a religião também deve mudar.

Insistir na rigidez da ortodoxia é condenar a congregação a viver no passado, numa realidade incompatível com a sociedade moderna. Se o pastor ou rabino ortodoxo tem câncer e recebe terapia de radiação, ele deve saber que é essa mesma radiação que permite a datação de fósseis com centenas de milhões de anos. É hipocrisia aceitar a cura da radiação nuclear e ainda assim negar os seus outros usos.

Fechar os olhos para os avanços da ciência é escolher um retorno ao obscurantismo medieval, quando homens viviam suas vidas assombrados por espíritos e demônios, subjugados pelo medo a aceitar a proteção de Deus. A escolha por uma devoção religiosa - se é essa a sua escolha - não deveria ser produto do medo."

Para mais detalhes acesse:

1. Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2202200902.htm
2. Reprodução do mesmo artigo no site da IHU - http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=20170
segunda-feira, fevereiro 23, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Mais um dia para descansar! Fantástico! Levantei-me cedo com vontade de fazer algo diferente. Pensei em pegar um ônibus e ir até o centro velho, de onde voltaria correndo. Consultei algumas possíveis rotas no Google Maps e elegi uma que sobe a Brigadeiro, cruza a Paulista, contorna o Ibirapuera pela República do Libado e segue em direção à Av. Santo Amaro, João Dias, etc. Seriam 20 quilômetros de desafio, superação e prazer.

Embora a vontade fosse grande, o bom senso me recomendava mais moderação. As duas panturrilhas estavam doloridas e o sol, aproveitando-se do carnaval, desfilava fagueiro pelo céu, fazendo questão de mostrar a cara. Prevaleceu o bom senso e resolvi ir correr no Ibirapuera, onde há sombra em abundância.

O Ibirapuera estava cheio. Parecia domingo. Senti-me feliz por estar ali para fazer algo que gosto – correr. Estacionei próximo a um termômetro que registrava 31ºC. Mas isso não me incomodava, pois a famosa "volta da cerca" é repleta de sombra. E já que estava com disposição, fiquei imaginando se seria hoje o dia em que superaria a marca dos 10 Km, mais distância percorrida por mim em 2009.

Comecei a correr com facilidade e segurando o ritmo. No começo é sempre assim. Sobra disposição e parece que vai ser fácil. Com o passar do tempo, porém, o ímpeto diminui e o ritmo tende a cair. Ao completar a primeira volta (6 Km) fiz uma rápida avaliação e percebi que não estava com disposição para correr mais que 10 km. Decidi, então, que tentaria aumentar o ritmo nos quilômetros finais para suar um pouco mais a camisa. Tomei a direção da pista de cascalho (1.250 metros) e aproveitei-me do percurso plano e sob a copa das árvores para aumentar a velocidade. Ao completar 10 Km, parei.

Graças ao alongamento cuidadoso e demorado que fiz em casa, as panturrilhas não reclamaram. Voltei para o carro e observei que o termômetro de rua assinalava 32ºC. O dia continuava lindo e o Ibirapuera cheio de vida... Hora de voltar para casa.

Resumo do treino:

domingo, fevereiro 22, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Domingo de carnaval. Ontem, fiquei acordado até as 2:00h da madrugada assistindo ao seriado LOST. Acordei hoje com o corpo mole e indisposto. Levantei-me depois das 8:00h. Pensei em correr e desisti. Só no final do dia, lá pelas 17:30h e quase morto de tédio, é que consegui reunir forças para calçar o tênis e sair para um trote leve.

O estômago estava muito cheio e a panturrilha direita um pouco sensível. Não seria fácil. Comecei a correr sem ânimo e decidi não permanecer no bairro, para evitar a tentação de desistir na primeira volta. Assim, aos poucos, fui me distanciando de casa, em direção ao parte Burle Marx, para a já tradicional volta de 10 km.

Lá pelo quinto quilômetro o estômago começou a reclamar. Comi carne no almoço e o boi ainda estava vivo em meu estômago, mugindo com intensidade cada vez maior. Dois quilômetros adiante, comecei a sentir calor. Estamos no verão e os termômetros de rua registravam 28 graus. Senti vontade de parar. Como estava a apenas três quilômetros de casa, decidi segurar o ritmo e completar os 10 km.

Terminei bastante suado, um pouco cansado e menos entediado.

Resumo do treino:

sábado, fevereiro 21, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Dan Ariely [1] é professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e "um dos novos expoentes de um ramo relativamente novo dos estudos da economia, conhecido como economia comportamental. Ele é autor do livro 'Previsivelmente Irracional'" [2], o qual li recentemente.

Esse livro é muito interessante e desmistifica a crença comum em nossos dias de que somos seres guiados, acima de tudo, pela razão. Embora nos orgulhemos de pertencer a um reino mais elevado do que o das moscas, galinhas, sapos e lagartos (ditos "seres irracionais"), com muita freqüência nos abdicamos da razão ao fazermos escolhas. Nossas ações e motivos não são tão lógicos, fundamentados, justificáveis e racionais quanto supomos. Para chegar a essas conclusões, Dan Ariely conduziu várias experiências interessantes, divertidas e surpreendentes que demonstram que "nossa capacidade de raciocínio tem defeitos provocados por forças invisíveis – emoções, relatividade, expectativas, apego, normas sociais – que nos induzem a fazer escolhas previsivelmente irracionais." [3]

O autor é didático, a leitura é leve, agradável e nos auxilia na formação de uma visão mais clara a respeito de nós mesmos.

Recomendo a leitura!

Referências:
domingo, fevereiro 15, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Continuo treinando muito pouco. O atual ritmo de vida me priva de tempo. Saio muito cedo; chego muito tarde. Na última semana, por exemplo, foram apenas dois treinos (domingo e quinta). Na semana que começou hoje, dificilmente será diferente.

Hoje, levantei-me disposto a correr. Troquei de roupa, alonguei-me e fiquei aguardando pela mudança de humor de São Pedro. Chovia sem parar. Depois de duas horas de espera, a chuva se transformou em leve garoa. Era a oportunidade que eu esperava. Saí às pressas para correr!

Minha meta era superar a barreira dos 10 km, maior distância percorrida por mim nos últimos três meses. Planejava correr a uns 5:45 minutos/Km (aproximadamente 10,5 Km/h) e rodar algo entre 12 e 15 Km, mas as condições climáticas não me ajudaram. A temperatura amena, a garoa quase intermitente e a brisa tépida me convidavam a manter um ritmo mais forte. Não resisti à tentação. Resultado: ao completar 10 Km de corrida, o gás acabou. Tive que parar.

Resumo do treino:

domingo, fevereiro 08, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Desde que mudei de emprego não estou conseguindo treinar com regularidade. Saio de casa muito cedo e retorno bem tarde. Ando quase sem tempo para quase tudo que me apraz, inclusive correr. Minha quilometragem semanal despencou e meu condicionamento não é mais o mesmo. Dificilmente participarei de uma maratona este ano.

Hoje fui, com minha esposa, ao Ibirapuera, na esperança de correr 12 Km (duas voltas da cerca) e ciente de que, se conseguisse rodar 10 km teria muito o que comemorar. Como tenho um problema crônico na musculatura das panturrilhas, planejei rodar lentamente no início e ir aumento o ritmo aos poucos, com o passar do tempo. Esse plano foi abandonado logo nos primeiros segundos de corrida.

Eu havia acabado de conferir os batimentos cardíacos, ligar o sensor de velocidade, disparar o cronômetro e dar os primeiros passos quando fui ultrapassado por um corredor suado. Não resisti à tentação de acompanhá-lo. Constatei que ele rodava a uns 5:20 minutos/km (algo em torno de 11,25 Km/h), um ritmo que eu sustento com tranqülidade quando estou treinado. Não sei se ele percebeu meu intento, sei que aumentou o ritmo e não me restou alternativa a não ser aumentar também e marcá-o de perto, uns cinco metros atrás. Estava ficando divertido. Pouco antes do 3º quilômetro, porém, meu "guia" deu uma guinada rápida e começou a trotar em sentido oposto, uma pena para mim, que estava adorando o treino. O jeito foi prosseguir sozinho e tentar manter o ritmo.

A "volta da cerca" no Ibirapuera é um dos poucos locais em São Paulo em que ainda é possível correr sobre terra batida. Há sempre um bom número de corredores (homens e mulheres) e sem aquela muvuca típica das alamedas asfaltadas do parque. Essa trilha mede seis quilômetros e é toda demarcada de cem em cem metros.

Ao completar os primeiros seis quilômetros, percebi que estava bastante cansado, mas continuava determinado a completar pelo menos 10 quilômetros, o que consegui em 0:51:39h.

Resumo do treino:

Referências:
1. Foto - Parque do Ibirapuera, em São Paulo
segunda-feira, fevereiro 02, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges

A história da Palestina está recheada de conflitos. O poema abaixo, extraído do livro "Poesia Palestina de Combate" foi recitada por um jovem poeta anônimo pouco antes de morrer enforcado, numa manhã de 1936:

Ó noite
Deixa que o prisioneiro termine os seus lamentos.
Não creias que é o medo
Que provoca as lágrimas.
Se choro é por minha pátria
E pelas crianças que deixarei em casa.
Quem lhes dará pão depois de mim
Se, antes de mim, meus dois irmãos
Foram também
Enforcados...
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