quarta-feira, abril 29, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Era uma vez um sapo. Mas aquele não era um sapo qualquer, era um príncipe. Uma bruxa malvada lançou sobre ele uma maldição: palavras mágicas infectadas de poder malévolo transformaram o humano de sangue azul em anfíbio de sangue frio. Quanto poder nas palavras!

Eu era uma criança e, em minha inocência infantil, ficava fascinado com o poder das palavras que, na boca de uma classe privilegiada, transcendiam a esfera dos símbolos, ganhavam densidade e se realizavam no mundo objetivo. Perguntava-me, num misto de admiração e temor, se tais seres como bruxas, feiticeiros, encantadores, magos, adivinhos, videntes e profetas realmente existiam. Acreditava, isto sim, que acima deles, numa esfera elevada e inatingível, existia um Ser único e supremo em quem a palavra tinha o dom de se manifestar com força incomparavelmente maior e em proporções muito mais surpreendentes. Num passado distante, num tempo em que nem mesmo o tempo existia, esse Ser fez uso da palavra para dar conteúdo ao vácuo e, do nada, trazer tudo à existência. Está na Bíblia: "E disse Deus: Haja... e houve." (Gênesis 1:3).

Mesmo hoje, quando minha infância há muito se fez saudade, continuo a me surpreender com poder "mágico" das palavras, às quais recorremos com frequência como instrumento de ação, interação e coação. Por meio da palavra, agimos sobre os outros com incentivos, promessas, elogios, bajulações, mentiras, imprecações, insultos, ofensas e muito mais. E ao assim agirmos – ora exaltando, ora aviltando mediante palavras – é como se, por meio delas, ainda fôssemos capazes de transformar sapos em príncipes e príncipes em sapos.

E é aqui que começo a sentir certo desconforto, sobre o qual me permito falar em poucas palavras. Sinto-me dominado pela forte impressão de que nossa relação com as palavras às vezes se torna promíscua. Os dicionários definem "promiscuidade" como uma "mistura confusa" [1]. Desconfio que, sob condições que não me são claras, usamos a palavra pra criar uma espécie de realidade virtual dentro da qual nos sentimos mais confortáveis. Essa desconfiança ganha força sempre que ligo a TV e me deparo com programas religiosos nos quais reverendos, pastores, padres e apóstolos usam e abusam de palavras em rituais e cultos. Preces longas e invocações veementes são pronunciadas com fervor, evocando forças misteriosas capazes de manipular as leis da natureza. E são tantos e tão frequentes os milagres que supostamente acontecem que me pergunto se aquilo é ficção (fantasia) ou realidade. Não me parece que eu e eles vivemos a mesma realidade.

Permitam-me fazer uso de uma ilustração. Todos nós conhecemos bem um semáforo. Trata-se de um instrumento usado para controlar o tráfego de veículos e que faz uso de uma linguagem bastante simples, composta por três sinais luminosos nas cores verde, amarela e vermelha. A cada uma dessas cores está associado um significado: avançar, atenção e parar. Frequentemente vemos automóveis parando quando o semáforo emite um sinal vermelho e avançando quando o sinal está verde. Sabemos que não há nada de mágico ou sobrenatural no semáforo. Temos plena consciência de que a cor vermelha emitida por ele não possui o poder intrínseco de frear um caminhão. Ela é apenas um signo, um sinal, que o motorista interpreta como "pare!".

Parece simples, mas nem sempre nossa percepção é tão clara. Às vezes nos comportamos como se a palavra (o vermelho do semáforo), na boca de nossos guias, possuísse poder sobrenatural capaz de frear acontecimentos ruins ou mover o Universo em nosso favor. Movidos por essa crença, fechamos os olhos (e possivelmente a cabeça) quando eles oram invocando chuva, cura de moléstias, manutenção da saúde, advento de fortuna e, em alguns casos, a ruína e a morte dos inimigos.

Se ainda fosse criança eu acreditaria em tudo isso... Mas cresci. Hoje, bruxas e feiticeiros já não me metem medo, embora ainda me assombre com o poder das palavras, pois sei que, quando combinadas na dose certa, elas podem ser um sopro de vida ou uma lufada de morte. Usá-las, contudo, para transformar príncipes em sapos (ou coisas do gênero) me parece fantasia da qual gente grande deve desconfiar.


Referências
[1] Houaiss - verbete "Promiscuidade" - http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=promiscuidade&stype=k

terça-feira, abril 21, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Sinto uma aversão profunda às baratas. Já vou adiantando que não é frescura. É um pavor que considero muito bem fundamentado. Sejamos francos: o mundo seria melhor e mais acolhedor sem elas, não é mesmo? Como são feias, nojentas, repugnantes, abomináveis e nocivas! Uma verdadeira praga. Você sabia que, para cada barata encontrada, há outras mil escondidas? Há quem diga (e eu faço questão de concordar) que as baratas são o principal vetor de transmissão de doenças ao homem, tendo sido comprovadas trinta e duas doenças causadas por bactérias, dezessete por fungos, três por protozoários e duas por vírus [1]. Não é de se temer um bicho desses?

E como são resistentes! Dizem por aí que elas resistiriam até mesmo a um apocalipse nuclear! Já pensou nisso? É mais provável, no futuro, um planeta Terra sem seres humanos do que sem baratas! Que horror! Que terrível! Para minha tristeza, as baratas são especialistas em sobrevivência. Já fiz de tudo para acabar com elas: inseticidas, iscas, K-Otrine, penitências, orações, promessas e jejuns. Nada funcionou. Será que magia negra resolve?

De tanto enfrentá-las, aprendi a respeitá-las também. É verdade. Fico consternado em fazer tal confissão. Apesar do meu ódio descomunal às baratas, de minha aversão doentia a elas, de meu desejo quase insano de bani-las da Terra, de meu desconforto e insatisfação em ter que conviver com elas, reconheço sim – a contragosto – que as baratas são um "intelligent design", um projeto bem sucedido, especializado na dura arte da sobrevivência.

Não entendo quase nada de biologia. Por isso, quando comparo o ser humano às baratas, sou induzido a pensar que levamos larga vantagem sobre elas, afinal, somos inteligentes, sofisticados, com um cérebro grande e complexo, ao passo que elas, coitadas, possuem um sistema nervoso rudimentar, um cérebro reduzido, uma visão limitada que as torna quase cegas. Mas é possível que eu esteja enganado...

A cada dia que passa, espanto-me mais com a capacidade adaptativa dessa praga repugnante. Algumas espécies de baratas, por exemplo, sobrevivem até trinta dias sem água; outras (ou as mesmas, sei lá) resistem até dois meses sem comida. E veja que horripilante: mesmo decapitada, uma barata é capaz de sobreviver por nove dias! (Isso me embrulha o estômago). E tem mais: em situações extremas, algumas espécies de barata se reproduzem sem a intervenção de um macho[2]. Deus do céu! Pode um coisa dessa?

Pelo que andei lendo, as baratas são originárias do continente africano e, não sendo boas voadoras, devem ter feito uso de navios para conquistar o mundo [3]. Hoje elas estão presentes em todos os continentes e em todos os lugares. Freqüentam restaurantes, igrejas, mercados, escolas e hospitais. E por mais que lhes neguemos entrada, elas se intrometem sorrateiramente em nossos lares e se transformam em hóspedes indesejados e perigosos. É provável que neste momento, enquanto lê este texto, alguma barata esteja a poucos metros de você. Cuidaaaaaaaaaaaaado!!!

Será que algum dia conseguiremos exterminá-las? Acho Difícil. Muito difícil. Mas sou um homem de fé. Tenho esperança e sonho com um mundo melhor para todos nós. Um mundo mais justo e fraterno, sem guerras, sem fome, sem doenças e sem baratas.

Resisto em crer que Deus as tenha criado. Não pode ser. Não faz o menor sentido para mim. Deus é bom e as baratas são perniciosas. Elas só podem ser obra do Capeta, o que me estimula em prosseguir nessa "guerra santa" contra elas. Preciso avisar a todos que baratas são seres demoníacos, filhas do Cão, agentes do mal, propagadoras de doenças, pecadoras malditas, amaldiçoadas pelo céu, inimigas dos santos, condenadas pelo Papa, destinadas a queimar no fogo do inferno, junto com o Diabo chifrudo que as criou.

E se você concorda comigo então levante também essa bandeira e participe desta guerra santa contra as baratas!

Referências:
[1] - Diário de biologia - "Curiosidades sobre Baratas!" - http://diariodebiologia.com/2008/04/curiosidades-sobre-baratas/
[2] - Pragas - "Baratas: Curiosidades" - http://www.pragas.com.br/pragas/barata/barata_curiosidades.php
[3] - Wikipedia - "Blattaria" - http://pt.wikipedia.org/wiki/Blattaria
quarta-feira, abril 15, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
O título escolhido para esta postagem foi extraído da música "Tempos Modernos" de Lulu Santos. Pareceu-me bastante apropriado usá-lo porque sinto que o tempo tem passando depressa demais. Os dias ganharam asas. São aves de arribação que voam, apressados, para longe. E as horas não são mais horas; são minutos, talvez segundos... tão curtas, tão efêmeras... Quando penso que são, já foram. Evaporaram. Passaram sem que eu me desse conta. Passaram e me desgastaram (corroeram-me, consumiram-me, debilitaram-me...)

Tenho quase absoluta certeza de que foi ontem que o ano começou. Será que estou ficando senil? Vivo em conflito com o calendário, que teima em afirmar que já estamos em Abril. Não é possível! Olho para trás e não vejo tantos dias decorridos assim, neste ano. Meus sentidos me enganam... ou, talvez, os dias tenham sido tão semelhantes, tão iguais entre si, que acabaram se fundindo em um só, em minhas lembranças. 

Seja como for, sinto que o tempo deu uma acelerada e eu, já cansado, não consigo mais acompanhá-lo. Estou ficando para trás. Talvez por isso tenha pensado com tanta freqüência naquela poesia - Retrato - de Cecília Meireles que toca nessa questão com simplicidade, beleza e profundidade. E de tanto pensar nela, resolvi transcrevê-la abaixo e compartilhá-la com vocês. 

Retrato
 
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?

(Cecília Meireles)

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domingo, abril 12, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Hoje, assistindo ao programa Esporte Espetacular na Globo, senti um forte desejo de participar da Maratona de São Paulo. Já havia desistido dela por falta de tempo para treinar. Mas agora, um mês e meio antes do evento, fico tentando encontrar um jeitinho de participar mais uma vez.

Desejo à parte, o fato é que treinei muito pouco neste ano. Em janeiro foram apenas 75 quilômetros; em fevereiro, 98; Em março 77 e em abril 24. Na média, não estou rodando nem 20 Km por semana. Com uma quilometragem tão baixa, participar de uma maratona é ser imprudente e masoquista.

O que fazer? Treinar antes de ir trabalhar? Só se me levantar por volta das 3:00h da madruga, o que me parece uma insanidade. Correr após o trabalho? Hum... Lá pelas 20:00h... Muito escuro e, nesse horário, já estou tão cansado que o treino seria pouco produtivo. Até daria para correr meia hora, o que é insuficiente para preparar alguém para enfrentar os desafios de uma maratona.

Não sei o que fazer. Ainda não desisti da Maratona, mas sei que, para participar, dependerei de um milagre, ou algo equivalente.
quarta-feira, abril 08, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Só hoje, com sete meses de atraso, é que me dei conta de uma postagem no blog Filosofando, de meu amigo o Prof. Dr. Frank Carvalho a respeito dos Dez maiores enigmas da ciência. Ao comentar algumas dessas questões intrigantes, o Frank levanta outras igualmente inquietantes. Vale à pena conferir, clicando no link Perguntas Intrigantes.

Esse incidente (atraso de sete meses até localizar e ler o artigo do Frank) me motivou a redigir este artigo recomendando uma solução bastante prática, da qual já lancei mão há algum tempo: o uso de um leitor de feeds.

"Feeds" (do inglês "alimentar") é o termo usado para o processo de distribuição de conteúdo na WEB, empacotados em formatos específicos e padronizados. Justamente por isso, esses feeds (também conhecidos como RSS Feeds) podem ser acessados para leitura em ferramentas específicas, conhecidas como leitores de feeds. Um desses leitores é o Google Reader.

Um leitor de feeds permite que você acompanhe novos artigos e conteúdos publicados em sites, blogs, agências de notícias, etc. e tudo isso de um único ponto central. A grosso modo, é como se você abrisse sua caixa de e-mails e percebesse rapidamente quantas e quais são as mensagens que você recebeu e ainda não leu.

Hoje não corro o risco de perder um artigo publicado pelo Frank ou por outros amigos que possuem blogs. Também acompanho as novidades do mundo de TI e monitoro outros tantos sites que abordam temas que são do meu interesse.

Fica aqui a dica: use também um leitor de feeds para facilitar sua vida e manter-se atualizado. Com a proliferação de sites interessantes, não dá mais pra ficar confiando na barra de "favoritos" de seu navegador. Também não é recomendável confiar apenas na memória. Às vezes a gente se descuida e lá se vão sete meses...

Há vários leitores de feeds disponíveis na WEB. Pelo que sei, o Google Reader é o 4º colocado (veja aqui). Mesmo assim eu o recomendo pela praticidade, simplicidade e facilidade de uso e acesso. Quem tem conta no Google (Ex: GMail, Blogger, Blogspot, Orkut, etc.) já dispõe desse serviço. É só começar a usá-lo.

A seguir, disponibilizo algumas dicas iniciais para que você possa dar os primeiros passos no Google Reader. Vá por mim: é muito fácil e bastante útil.

1. Endereço de acesso: http://www.google.com.br/reader/

2. Informe seu usuário e senha do GMail (Ou do Blogger/Blogspot);
3. Na barra lateral (a sua esquerda) clique em "Procurar coisas";
4. Na área central será exibida uma página com o título "Descubra e pesquise Feeds";

5. Procure por uma caixa de texto identificada pelo rótulo "Pesquisar feeds usando palavras chaves".

6. Como sugestão, digite "detextoemtexto" e pressione o botão "Pesquisar feeds";

7. A página será atualizada com feeds correspondentes a palavra pesquisada (que nesse exemplo foi "detextoemtexto")

8. Agora é só clicar no botão "adicionar a uma pasta" para acompanhar o que publico no meu blog "de texto em texto". Caso não haja nenhuma pasta, selecione "Nova Pasta", informe o nome dessa nova pasta e pronto.

Simples, não é mesmo?

Você pode organizar seus feeds em pastas. Eu tenho uma, por exemplo, chamada "Blogs de Amigos", outra chamada "Tecnologia" e por aí vai.

Faça um teste e facilite sua vida!
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terça-feira, abril 07, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
AS INDAGAÇÕES
A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.

DOS MILAGRES
O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!

SIMULTANEIDADE
- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.

DO AMOROSO ESQUECIMENTO
Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

AMOR
Quando duas pessoas fazem amor
Não estão apenas fazendo amor
Estão dando corda ao relógio do mundo.

POEMINHA DO CONTRA
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
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