segunda-feira, janeiro 25, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Quase meia noite. Tenho pouquíssimo tempo para registrar aqui meus parabéns a esta cidade que hoje comemora 456 anos de existência. São Paulo, hoje é seu dia! Que posso dizer desta cidade que ainda não tenha sido dito?

Na falta de tempo (e de criatividade), serei repetitivo. Para mim, São Paulo é a cidade dos contrastes: tão imponente com seus arranha-céus e, ao mesmo tempo, tão frágil perante a chuva que cai do céu. Tão grande e, às vezes, tão medíocre. É amor e ódio. Vida e morte. Multidão e anonimato. Encontros e desencontros. Uma encruzilhada... São Paulo: dolorosa convivência, difícil separação.

São Paulo... Aqui cheguei há muito tempo. Fui ficando... Pensei muitas vezes em ir embora. Não consegui. São Paulo me conquistou, não sei bem como. Fez de mim um amante fiel. Hoje só penso em ficar um pouco mais e, se sair, não quero me distanciar, porque São Paulo, apesar do que dizem, apesar do que eu mesmo possa dizer, é meu canto, minha casa, meu lugar.

Será que algum dia a abandonarei? Não sei, mas penso que se algum dia sair daqui, levarei essa cidade comigo, pois me confundi com ela a ponto de me sentir seguro em afirmar que "sou São Paulo".

Megalomania? Loucura?

Não. Metáfora!

Sou São Paulo. Sou contrastes. Sou confuso. Sou confusão. Multidão e solidão ao mesmo tempo. Frio e calor num mesmo dia. Quatro estações em poucas horas. Sou seu clima temperamental. Terra da garoa que virou tempestade! Quanta chuva! Minha prece: São Pedro, tenha piedade de São Paulo!

Sou São Paulo. Cresci sem muito planejamento. Dei-me conta de que sou grande, cheio de feiúra e beleza, ruído e música, concreto e jardim. Contrastes e mais contrastes... Melhor deixar pra lá.

Enfim, mais um aniversário. São Paulo, hoje é seu dia, e devo lhe confessar: quisera que todos os dias fossem seu aniversário, só pra gozar de um pouco mais de calma e escapar de sua rotina sufocante sem precisar me afastar de você...

Parabéns! Vou repetir uma, duas, três, 456 vezes...
sábado, janeiro 16, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Aconteceu novamente! Eu já estava me esquecendo da tragédia em Angra dos Reis e lá vem outra me atormentar! Desta vez a natureza mostrou sua face escura numa ilha do Caribe, onde fica o Haiti, um pequeno país de pouco ou nenhum destaque no cenário mundial. Na última terça-feira (12/01/10), esse país que já era o mais pobre das Américas, tornou-se também a expressão máxima de desgraça no mundo. Desde então, seu povo padece, sofre, sangra, chora e não para de contabilizar os mortos. Já são mais de cinqüenta mil e, possivelmente, esse número ultrapasse a casa dos duzentos mil. É infortúnio demais para uma ilha tão pequena!

O Haiti virou manchete. Vive, sem poder desfrutar, seus quinze minutos de fama global! Tornou-se o centro das atenções externas, mas, internamente, perdeu suas referências e segue sem rumo e sem direção.

A imprensa está lá, fazendo seu trabalho: prestação de serviços intercalada com cenas fortes e dramatização. Notícia ruim dá IBOP! É a desgraça alheia se transformando em negócio rentável. Longe de mim querer dar uma de moralista e condenar a imprensa. Nada disso. Estou apenas observando que é assim que o mundo funciona. Uns perdem, outros ganham e a roda continua girando. A felicidade do leão é a tristeza da zebra, do guinu,do antílope, não é mesmo? É a morte de uns promovendo a vida de outros.

Tragédias como essa fazem nossas certezas estremecerem e nos mostram o quanto somos reféns dos fenômenos naturais. Se num dia qualquer a Terra desperta mal humorada e resolver se revirar sob nossos pés, ai de nós. Não há o que fazer ou pra onde fugir. Se der tempo, poderemos rezar ou torcer para não sermos destruídos por ela.

E a cabeça se enche de perguntas: Por que acontecem essas tragédias? Há algum sentido em tudo isso?

A ciência se apressou em explicar o ocorrido. Ouvi algo mais ou menos assim: "A causa do desastre está associada à uma falha geológica existente nas proximidades do Haiti. Acomodações ocorridas no interior da Terra liberaram energia acumulada, provocando esse terremoto que atingiu sei lá quantos pontos na escala Richter".

E daí? E os cinqüenta mil mortos? Certo é que essa explicação científica é de pouca ou nenhuma serventia para os sobreviventes no Haiti – famintos, sedentos, desorientados, traumatizados – que perderam tudo, ficando literalmente sem chão e sem teto. Pois quando a terra treme e o céu vacila, quando a dor nos consome e o medo nos domina, quando o presente é caótico e o futuro uma dúvida, o que desejamos ouvir é uma voz forte, amiga, que nos oriente e nos faça crer que não estamos sofrendo à toa e que, aqueles que se foram, não morreram em vão. Essa voz de consolo e esperança não costuma vir da ciência.

E é nesse vácuo deixado pela ciência que o discurso religioso encontra solo fértil para se manifestar e progredir. Isso porque a religião sempre tem uma resposta para tudo, seja para a morte de uma criança, um genocídio, a violência urbana ou a fúria da natureza. Seu efeito é anestésico. Alivia a dor, reduz a ansiedade, tranqüiliza o espírito e conduz o desesperado à zona de conforto em que estava antes da crise ter início. "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum..." (Salmo 23). "Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro sempre presente nas tribulações..." (Salmo 46). "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Romanos 8:31).

Falei há pouco sobre ação da imprensa no Haiti e acrescendo aqui o esforço das igrejas. Elas também estão fazendo o seu trabalho: sermões aqui, orações ali, Bíblia acolá. Vão se aproveitando desse momento de alta do medo para investir fortemente na conquista de novos adeptos. Não é minha intenção aqui criticar as igrejas, afinal, é assim que o mundo funciona e as igrejas fazem parte dele.

E já que falei em religião e igrejas, lembro-me que Deus é, na Bíblia, apresentado como o protetor dos pobres, das viúvas e dos órfãos. O Haiti é hoje, por excelência, a terra dos pobres, das viúvas e dos órfãos, um "prato cheio" para Deus. A imprensa está lá, fazendo o trabalho dela e buscando audiência; as igrejas estão por aí, aproveitando-se igualmente da crise para incrementar suas fileiras de adeptos. E Deus, onde está? O que anda fazendo? Sei alguma coisa sobre as instituições humanas, sobre como o mundo funciona, mas admito desconhecer os caminhos, interesses e intenções divinos. Penso, contudo, que se Ele quisesse, poderia se aproveitar também desse momento de luto para revelar ao mundo sua velada face de amor. Os pobres, as viúvas e os orfãos do Haiti certamente ficariam muito agradecidos se Deus fosse hoje, para eles, "socorro bem presente nas tribulações", com afirma o salmo bíblico.
domingo, janeiro 10, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Imagine-se dentro de um avião, num voo sem escala sobre a linha do Equador, deslocando-se a 900 km/h. A essa velocidade, você daria uma volta ao redor da Terra em aproximadamente dois dias. Esse cálculo não é exato, mas serve para nos dar uma idéia, ainda que vaga, das dimensões do nosso planeta.

Agora imagine-se, nessa mesma aeronave e à mesma velocidade, numa hipotética viagem ao redor da estrela "VV Cephei". Que estrela é essa? Uma, entre as tantas que existem em nossa galáxia. Uma estrela vizinha, já que dista menos de 8,5 anos luz da Terra (uma curta distância em termos astronômicos). Quanto tempo será necessário para que sua aeronave dê uma volta ao redor dessa estrela?

O vídeo que disponibilizo abaixo (com duração de uns dois minutos) responde a essa pergunta, mas não vou criar nenhum suspense quanto à resposta: serão necessários mil e cem anos! Dá para acreditar?

Em termos de grandeza, nosso minúsculo planeta, que por tanto tempo foi considerado o centro do Universo, não passa de um minúsculo grão de poeira, perdido no espaço sem fim. Um "pálido ponto azul", nas palavras do conhecido astrônomo Carl Sagan. Um pontinho pálido, transparente, (quase) insignificante, (quase) inexistente...

Mas há algo em nós, humanos, que insiste em querer acreditar que não somos tão pequenos. Somos únicos, importantes, especiais e desempenhamos o papel de protagonistas no drama inconclusivo sobre a origem e o fim de todas as coisas.

Quando penso em estrelas como a VV Cephei - tão grande, tão imensa, absurdamente colossal - sinto-me fortemente tentado a duvidar do julgamento de valor que fui ensinado a fazer de mim mesmo e da espécie humana. E quando me lembro que VV Cephei é apenas um dos duzentos bilhões de astros que compõem a Via Láctea... E quando me dou conta de que a Via Láctea é apenas uma entre bilhões e bilhões de outras galáxias... E quando ouço falar sobre a possível existência de outros universos...

Sinceramente,
sou muito pequeno.
Será que sou?
Não.Não sou!
Apenas estou!
Ainda estou...
Sumindo...
Sumi.
...
..
.

Assistam ao vídeo abaixo e tirem suas próprias conclusões.




Veja também: O homem no Universo
sábado, janeiro 09, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges

Virada de ano, clima de festa e cenário paradisíaco: serras imponentes, cobertas por exuberante floresta tropical, em perfeita harmonia com um mar de águas claras e mansas, pontilhadas por dezenas (talvez centenas) de pequenas ilhas, com suas praias calmas e areias brancas... Angra dos Reis é assim. Um lugar difícil de ser adjetivado. Um verdadeiro paraíso!

Na virada do ano, esse paraíso conheceu o inferno. Chuvas torrenciais e contínuas fizeram com que parte da Serra fosse afogar-se no mar, arrastando consigo o que encontrou pela frente. Árvores tombaram, pedras rolaram, lama fluiu, casas ruíram e mais de cinquenta vidas foram ceifadas.

A televisão se encarregou de trazer a tragédia para dentro de minha casa. Fiquei ali, na sala, boquiaberto, sem palavras, quase sem piscar, hipnotizado pela força das imagens. Vi a chuva se confundir com as lágrimas do povo e o ribombar dos trovões ser abafado pelo gemido de homens que, atordoados, mais pareciam meninos, crianças confusas, perdidas, sem saber o que fazer ou a quem recorrer.

A tragédia não fez distinção entre crianças, idosos, pais de família, santos ou pecadores. Levou uns, deixou outros e escancarou, de forma fria e rude, nossa pequenez e fragilidade diante dos fenômenos naturais.

Você e eu, que vivemos no Brasil, um país colonizado por cristãos, fomos ensinados a acreditar na existência de um Deus todo-poderoso e misericordioso que está no controle de tudo. Esse Deus sabe o que faz, é o que nos disseram. Mas diante de tragédias como essa, que nos abateu na virada do ano, muitos devem ter-se feito a mesma pergunta: Será que Deus realmente sabe o que faz? Será que ele está no controle?

Tom Roney, ministro por mais de vinte anos na Inglaterra, é uma dessas pessoas que passou boa parte da vida falando sobre Deus. Supostamente, deve conhecê-lo melhor que a maioria de nós. Pouco depois da grande tsunami de 2004 ele fez um sermão marcado pela honestidade, em que questiona seu conhecimento a respeito de Deus... Logo abaixo, disponibilizo o vídeo desse sermão. Não me alongarei aqui sobre o seu conteúdo, pois ele fala por si mesmo. Recomendo-lhe que invista dezenove minutos de seu tempo nesse vídeo. Vale a pena.

O áudio está em inglês, mas é possível adicionar legenda em português clicando em "View subtitles" .


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