sábado, janeiro 22, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
A frase acima, usada como título para esse texto, é de autoria do cantor e compositor John Lennon e é citada por a Richard Dawkins no documentário "A raiz de todo mal" e no livro "Deus um delírio", nos quais ele argumenta com fervor e eloqüência em defesa de um mundo sem ataques suicidas, sem o 11 de setembro, sem o Talibã, sem as infindáveis guerras entre judeus e palestinos, sem muçulmanos, sem cristãos, enfim, um mundo sem religião. Você é capaz de imaginar como seria esse mundo? Eu bem que tentei imaginá-lo, mas me esbarrei em algumas limitações.

Até onde consegui pesquisar, não se tem conhecimento de nenhuma cultura que seja estruturalmente não religiosa ou atéia. Com efeito, ao longo dos séculos, o ateísmo foi sempre um fenômeno escasso, minoritário, periférico. Imaginar um mundo sem religião estando inserido em um mundo essencialmente religioso requer muita abstração e criatividade, a menos que tomemos um atalho e peguemos o nosso mundo, tal qual é, e simplesmente removamos a religião dele. Essa atitude, contudo, não me parece ser a forma mais honesta de lidar com a questão, mas foi o que eu fiz (e penso que seja o que muitos façam) ao aceitar o desafio de John Lennon em sua música "Imagine".

Para muitos, o mundo seria melhor se não houvesse religião. Alguns, pela forma como se colocam, parecem ter certeza disso. Sinceramente, não sei como chegaram a essa conclusão, mas não quero aqui polemizar sobre o que me parece ser resultado de escolhas pessoais. Quanto a mim (e aqui exponho tão somente meu ponto de vista numa reflexão sabática despretensiosa), estou inclinado a crer que a religião não seja a raiz de todo o mal, porque, para mim, religião não é "causa" e sim "efeito". Conseqüentemente, sua remoção não seria suficiente para o estabelecimento de um mundo novo e melhor, já que a verdadeira causa permaneceria.

É fato inegável que sempre houve atritos, conflitos e guerras baseados em princípios religiosos. Reconheço que, em nome de Deus muitas atrocidades foram cometidas. Lembro-me agora, para citar um exemplo, das Cruzadas que, sob o pretexto de reconquistar a cidade de Jerusalém – local sagrado para os cristãos – legitimou crueldades, saques, destruições e mortes, deixando um rastro de sangue ao longo de quase dois séculos de história (1096-1272). E tudo isso conduzido sob as bênçãos da igreja e, supostamente, com a aprovação do "Senhor dos exércitos, o Deus de Israel". Confesso-lhes que, ao refletir sobre esse capítulo sombrio de nossa história, sinto-me propenso a pensar que o mundo sem religião seria melhor que este em que vivemos.

Por outro lado, admito a existência de um outro lado da experiência religiosa que me faz hesitar em colocá-la no cadafalso. São casos como o do quase desconhecido frade franciscano Maximiliano Kolbe, que se voluntariou para morrer em lugar de um pai de família no campo de concentração nazista de Auschwitz. Durante a segunda guerra mundial ele abrigou muitos refugiados, incluindo aí dois mil judeus. Relatos como esse me comovem!

A religião, no entender de especialistas, é um fenômeno "polissêmico". O que isso significa? Essa palavra, pouco usada em nosso dia-a-dia, deriva do grego "poli" (muitos) e "sema" (significado) e é empregada pelos estudiosos da religião para dizer que ela é um signo aberto, que pode assumir significados diversos de acordo com o contexto e ser usada para praticamente tudo. Em nome da religião estimulou-se a inquisição e a caça às bruxas; em nome da religião promoveu-se a arte e a poesia. Em nome da religião se mata; em nome da religião se salva. Em nome da religião, tudo pode ser justificado. É isso que os especialistas querem dizer quando se referem a ela como "polissêmica".

Quando analisamos os textos sagrados nos quais as religiões se alimentam, fica mais fácil entender esse comportamento metamórfico que as caracteriza. Tomemos o cristianismo como exemplo, apenas por ser essa a religião com a qual temos maior afinidade. Em certa ocasião, Jesus disse que não veio ao mundo para trazer paz e sim espada (leiam em S. Mateus 10:34-36). Em outro momento ele afirma o contrário. Diz ele: "bem-aventurado os pacificadores" (leiam em S. Mateus 5:9). Afirmações como essas, aparentemente conflitantes e incoerentes, abrem margem para interpretações dúbias, divergentes, contraditórias, antagônicas. Qualquer um pode se sentir no direito de invocá-las ou interpretá-las em benefício próprio ou conforme a conveniência do momento, justificando assim tanto a guerra (por motivos "nobres", sempre) quanto a paz. Atualmente, presenciamos uma explosão de novas denominações religiosas cristãs, cada uma com suas singularidades e incongruências e todas ancoradas no mesmo texto sagrado. A natureza polissêmica desse texto sagrado favorece (e até justifica) esse fenômeno bizarro.

Com base no que foi colocado até aqui, parece-me razoável presumir que a religião, por ser polissêmica, isto é, aberta e sujeita a interpretações circunstanciais e influências pessoais, pode ser usada (e de fato tem sido usada) para apoiar movimentos que promovem tanto a paz quanto a guerra, tanto a concórdia quanto o conflito, tanto a vida quanto a morte. Ora, isso me leva a concluir que a religião em si não passa de um instrumento, que pode ser usado (e de fato o é) de acordo com a habilidade de quem o domina. E em sendo um instrumento, então não pode ser "a causa" do bem ou do mal, porque não há intenção em um instrumento.

Se me permitem a comparação, o mesmo pode ser dito a respeito da ciência. Ela também é um instrumento, uma ferramenta e, como tal, seu propósito é o propósito de quem a utiliza. Há quem faça bom uso da ciência, mas há também quem não o faça. Após a segunda gerra mundial, muitos se perguntavam se ainda era possível acreditar em Deus depois de Auschwitz. Por outro lado, outros também se questionam se ainda era possível acreditar na ciência depois de Hiroshima.

Não sei se estou conseguindo ser claro, mas o que estou tentando dizer é que, assim como a ciência, a religião não deve ser tomada como a "causa" de certos males que afetam nosso mundo e concluir que, sem ela, estaríamos mais próximos do paraíso terrestre. Isso porque, no meu entender, a verdadeira causa de tais males precede a própria manifestação religiosa.

Evidentemente, o que expus aqui é apenas o "meu" ponto de vista atual. Sei que muitos discordariam dele se porventura viessem a ler o que acabo de escrever. Por isso e de antemão, registro aqui meu sincero respeito e apreciação por essas opiniões contrárias. Contudo, reafirmo o que disse e que resumo da seguinte forma:

(1) O sentimento religioso é inerente ao ser humano. Conforme disse antes, não se tem conhecimento de qualquer cultura que seja estruturalmente não religiosa ou atéia. Em sendo assim, não consigo imaginar como seria um mundo sem religião, a menos que imagine um mundo sem seres humanos. Se a religião não existisse, nós a inventaríamos, talvez com outro nome, mas com essência semelhante.

(2) Entendo que os problemas que existem na sociedade são decorrentes da natureza humana. Somos seres belicosos, sedentos de poder e essencialmente egoístas. A própria sociedade (que também é uma invenção humana) se apóia nesse nosso egoísmo (aprendemos com o tempo a impor limites a esse egoísmo em troca de um bem maior). Em sendo isso verdade, então, com religião ou sem religião, continuaríamos a ser o que somos: egoístas, violentos e ávidos por poder.

E depois de tanto falar a pergunta persiste. Hipoteticamente falando, o mundo sem religião seria melhor ou pior do que este em que vivemos?

Não me parece que seja possível responder a essa pergunta de maneira honesta. Faltam-nos elementos para análise. Podemos fazer suposições. Podemos eleger uma das opções como preferida e elencar características positivas e/ou negativas para apoiar nossa escolha, mas o fato é que só conhecemos um mundo – o mundo com religião – e o outro não passa de uma hipótese ou utopia.

Julgo importante lembrar que, na maioria dos casos, as utopias são elaboradas não com o fim de se criar um novo mundo ou uma nova sociedade e sim reformar o mundo e a sociedade em que vivemos. Em sendo assim, vale à penas considerar a proposta de John Lennon e tentar imaginar como seria esse mundo sem cristãos, muçulmanos, budistas e outros rótulos religiosos que causam tantas divisões. Talvez esse exercício nos ajude a melhorar o mundo que conhecemos, a começar por nós mesmos.

E para concluir o tema, evoco as palavras do historiador e filósofo Dr. Leandro Karnal, professor na Unicamp, em um Café Filosófico que não canso de assistir: "Volto a insistir: ateísmo ou religião não tornam o mundo pior ou melhor, apenas tornam o mundo do jeito que ele é".
sexta-feira, janeiro 21, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
O dia amaneceu radiante e quente. Até o sol sentiu calor, pediu água e foi-se refrescar sob um guarda-sol de nuvens. Hesitei um pouco e por pouco tempo antes de sair para meu trote diário.

Ontem não corri devido a um desconforto muscular na panturilha direita, tratada com muito gelo. Ficar dois dias seguidos, em pleno período de férias, sem correr seria doloroso demais. Não resisti e, mesmo com a panturrilha sensível e o calor escaldante, troquei de roupa, fiz um longo aquecimento e segui em passos de tartaruga em direção à praia.

Corri na água uma boa parte do tempo, num dos treinos mais lentos que fiz nos últimos anos. O saldo foi positivo: oito quilômetros administrando a dor e desfrutando da endorfina que fluia nas veias.
quinta-feira, janeiro 20, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
O dia está prestes a findar. O sol caminha lentamente em direção ao poente, enquanto nuvens escuras se concentram nas encostas da Serra do Mar. É verão e o que se vê não parece inusitado nem ameaçador. A vida segue seu caminho. Uns trabalham, outros descansam, turistas aproveitam suas férias na montanha.

O tempo passa. O céu se torna mais negro. O sol adormece e o dia se faz noite, precocemente. Começa mais um espetáculo da natureza.

O vento rosna. Raios inflamados lampejam no céu. Trovões raivosos fazem sua voz soturna e grave ecoar pelo vale. A serra imponente contempla em reverência a demonstração de força que brota do âmago de nuvens escuras e densas. As comportas do céu se abrem despejando chuva em profusão. É o começo do fim. Dilúvio. Destruição.

A chuva não pára, pelo contrário, intensifica-se. O que antes parecia mais uma chuva de verão adquire contornos dramáticos de juízo final. A natureza se mostra hostil, indomável e furiosa, expondo sua face sombria, assustadora e mortal, despertando o medo adormecido nos corações de adultos e crianças.

Com efeito, em tais situações, é difícil distinguir adultos de crianças. Estatura e a idade deixam de ser referenciais confiáveis. Todos se nivelam e se igualam em impotência e fragilidade, cientes da pequenez e insignificância da existência humana. Ambos temem pela vida que vacila, pela morte que se aproxima, pelo fim que parece iminente e, talvez, inevitável.

O alarido da natureza em fúria abafa a voz rouca de pais aflitos e filhos desesperados que clamam em vão pelo auxílio que não vem. Evocam-se santos, enunciam-se promessas, apega-se pela fé a uma "mão invisível" que, naquele instante de desespero, parece ser o que de mais sólido há em que se possa agarrar.

Dinheiro, poder, prestígio - tudo perde o valor. São impotentes, insignificantes, incapazes de tocar o coração da natureza, que não os reconhece nem respeita. Para ela (a natureza), homens, animais, árvores e pedras se equivalem e recebem o mesmo tratamento.

O tempo passa. A tempestade recrudesce. A esperança fraqueja. A racionalidade cede lugar ao instinto de sobrevivência. É "cada um por si e Deus por todos". Salve-se quem puder!

Enquanto isso, pequenos regatos de águas cristalinas, atrações turísticas da região, transformam-se em torrentes caudalosas que descem das encostas com violência e furor, alagando o vale abaixo onde, outrora, prosperavam belas cidades serranas. Árvores são arrancadas do solo. Pedras enormes se desprendem e iniciam sua trajetória mortal de horror e destruição. A Serra se derrete e escorre como se fosse areia. Rios de lama formam cachoeiras. A geografia da região é reconfigurada. Casebres e mansões são aterrados, lares desfeitos, corpos humanos esmagados. Nada parece resistir à força e à fúria da natureza.

O que está acontecendo? Será a mão do destino, do divino ou do diabólico? Para muitos, não há tempo para respostas, não há sequer tempo para a vida. A morte os venceu.

E os que sobrevivem a esse drama tentam juntar os trapos e seguir em frente.

E os que, de longe, contemplamos a tudo sem por o pé na lama, encontramos tempo para fazer perguntas e procurar respostas. E muitos afirmam que tem, sim, as tais respostas... Eu não chego a tanto...

Para mim, não há respostas, mas há escolhas. Posso escolher acreditar que foi tudo obra do acaso, ou que foi a mão de Deus, ou ação das forças do mal. E essas escolhas, embora não mudem os fatos, afetarão o modo como eu os encaro e, certamente, influenciarão minha vida.

Seja como for, o verão prossegue. Chuvas voltarão a cair. Novas tragédias ocuparão os telejornais. Muito será dito e, provavelmente, pouco será feito... Coisas da vida! Coisas do Brasil!
quarta-feira, janeiro 19, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Tenho percebido com certa freqüência nos telejornais, a associação livre entre a catástrofe ocorrida na serra do Rio e o alardeado fenômeno do aquecimento global. É certo que não tenho autoridade acadêmica para discordar dessas colocações, mas aprendi, com os anos, a desconfiar do senso comum e da lisura de alguns conteúdos jornalísticos.

Chuvas intensas ocorrem com regularidade nos verões brasileiros. Nessa estação, deslizamentos de encostas na Serra do Mar acontecem sistematicamente. Nem sempre no mesmo lugar. Às vezes no Rio, outras vezes em São Paulo, em Santa Catarina e por aí vai. Pedras enormes e árvores de grande porte descem ladeira à baixo, envoltas em lama e barro, arrasando tudo que encontram pela frente. Rios transbordam, alargam suas margens e invadem regiões ribeirinhas. Nada disso é novidade. Já era assim nos dias de Cabral.

Quando acidentes naturais acontecem em regiões pouco habitadas ou completamente desabitadas não dão "ibope" e, conseqüentemente, não ecoam na mídia. Se a serra carioca ainda estivesse despovoada, essa mesma chuva que desabou por lá não seria forte o bastante para merecer quinze minutos do horário nobre das TVs brasileiras.

O que despertou a atenção para esse evento foi o elevado número de vítimas humanas, mais de setecentos óbitos até o momento. Esse elevado número de mortes induz-nos a supor que a natureza esteja em mutação e a intensidade das chuvas aumentando, quando o que de fato aumentou foi a ocupação humana, desordenada, em áreas de risco.

Foi a combinação desses dois elementos (chuvas de verão x ocupação humana de áreas de risco) que transformou um fenômeno natural e previsível em tragédia de comoção nacional.

Não tenho motivos para duvidar da afirmação de especialistas quanto ao aquecimento global, mas deduzir que o que vem acontecendo aqui no Brasil seja conseqüência desse aquecimento global me parece uma conclusão prematura demais. Nosso problema é outro e igualmente conhecido por todos: falta de planejamento, falta de investimento, falta de... Nossa! Faltam tantas coisas nesse nosso Brasil!

E por falar em chuva e serra, estou passando uns dias em Bertioga, no litoral de São Paulo. Tem chovido muito por aqui. Enquanto escrevo, ouço o retumbar dos trovões. A Serra do Mar circunda a cidade. Uma enorme e imponente muralha verde que parece desafiar o céu ao reter as densas e negras nuvens de chuva. Oitenta e cinco por cento do município (85%) é coberto pela vegetação natural, a densa e exuberante florestal tropical. Não há ocupações irregulares de encostas e, por conseguinte, não há espaço para tragédia semelhante à que ocorreu na mesma serra, no estado do Rio.
segunda-feira, janeiro 17, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
A palavra "natureza" deriva do latim "natura" que significa nascimento. De certo modo, somos todos filhos da natureza, o que nos induz a vê-la como uma espécie de mãe, a "mãe-natureza". Será isso verdade?

Carlos Drumond Andrade, no poema "Para Sempre", assim se expressa a respeito da figura materna:

Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento

e chuva desaba,

veludo escondido

na pele enrugada,
água pura,
ar puro,

puro pensamento.


Mãe, diz ele, "é tempo sem hora" – alguém sempre presente, especialmente nos momentos difíceis, "quando sopra o vento e a chuva desaba".

Quanto à natureza, o mesmo poeta não a descreve como uma mãe (não que eu saiba). Ele apenas declara em tom taciturno: "A natureza não faz milagres; faz revelações".

Os recentes fenômenos naturais que provocaram a morte de mais de seiscentas pessoas no Rio de Janeiro, revelam-nos uma face sinistra da natureza que nada tem a ver com a mãe afetuosa descrita por Drummond. O vento soprou, a chuva desabou e a serra, outrora firme como uma rocha, desfez-se em lama que soterrou vales, destruiu casas e ceifou vidas. O Rio de janeiro se transformou em rio de lágrimas. Filhos da natureza se viram órgãos de uma mãe que não se poupou da própria viuvez.

Costumamos contemplar a natureza com olhos poéticos. Dessa forma ela nos parece bela, provedora, acolhedora, amiga e maternal. Mas poesia não é sinônimo de realidade. Os fatos recentes mostraram, mais uma vez, que a natureza é uma força cega, desprovida de consciência e insensível as nossas dores. Não nos reconhece como seus filhos nem sente a nossa falta.

Ela pode ser tudo, menos uma mãe, embora muitos insistam em reverenciá-la como tal.

quinta-feira, janeiro 13, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Há momentos em que as palavras, por mais eloqüentes que sejam, se mostram incapazes de expressar o sentimento de dor, desespero e desamparo que nos abate diante de catástrofes como essa que atingiu a região serrana do estado do Rio de Janeiro.

São centenas de mortos e um número desconhecido de feridos e desabrigados. A serra, atração turística da região, com sua aparência firme e sólida, tornou-se frágil e instável sob a força da chuva, convertendo-se em um rio de lama e pedra que, em pouco tempo, transformou a paisagem até então paradisíaca em um cenário de destruição e tragédia.

Para os moradores da serra fluminense, o ano começa em meio ao caos, marcado por uma calamidade de proporções assustadora, que transformou homens seguros e fortes em crianças indefesas e frágeis. Para outros tantos moradores da mesma serra, o ano já terminou...

Muitos se questionam sobre as causas desse acidente que ceifou a vida de tantos - de homens e mulheres, crianças e idosos, ricos e pobres, marginais e cidadão de bem. As perguntas se multiplicam. As respostas se mostram escassas, sem sentido ou inexistentes. Quando o céu se mostra cinzento e hostil e a terra, sob nossos pés, vacila e cede, a vida parece perder o sentido e somos assombrados pela espantosa grandeza de nossa pequenez e fragilidade.

Lamento por tantos que morreram: projetos inacabados, sonhos interrompidos...

Lamentos por tantos que sobreviveram: que seguirão adiante com suas vidas amputadas pela perda de entes queridos...

Lamento por ser a vida assim: incerta, efêmera e frágil...

Lamento...
terça-feira, janeiro 11, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Resisti por muito tempo à tentação de investir em um novo aparelho celular. Razões não me faltaram para assim proceder, entre elas: custo x benefício, o já possuir um celular que atendia às minhas necessidades, o risco de assalto e conseqüente perda do capital investido, etc. Mas, nos últimos meses vi minhas defesas se enfraquecerem rapidamente e, quando me dei conta, já estava seduzido - encantado, fascinado, enfeitiçado - por um diabinho que atende pelo nome de smartphone... Pequei!

Há vários modelos de smarphones disponíveis no mercado para todos os gostos e bolso$. Pesquisei bastante e acabei optando por um: o "Milestone 2" da Motorola. Desde então estamos em agradável e intensa lua de mel.

Não vou aqui cometer o deslize de tentar justificar minha aquisição. Por mais que tenha analisado racionalmente antes da compra, na hora o que mais pesou foi o envolvimento emocional. No "século passado" (o século XX) eu desejei muito adquirir um pocket PC - aquele aparelhinho de mão, multifuncional - mas não o fiz. Desta vez, contudo, minha reação foi outra, e aqui estou, redigindo esse texto em meu pequeno e portátil "computador de mão". O teclado físico do Milestone é uma beleza!

Mas ter um equipamento desses sem um plano de acesso a dados não faz muito sentido. Optei por um pacote pré-pago. Há vários disponíveis. No meu caso, contratei um mês, na operadora Claro, por R$ 11,90. Neste momento estou viajando (em Curitiba) e navegando sem problemas.

Enfim, loucura feita, reconheço que cedi à tentação: pequei. Pequei? Nada disso. Dei a mim mesmo um belo presente e estou me divertindo bastante com ele. Já instalei alguns aplicativos e estou estudando o Android (sistema operacional) para aproveitar melhor os recursos disponíveis. Se o que importa é ser feliz, então não posso negar que acertei ao fazer essa aquisição.

Em breve registrarei aqui (com menos paixão) minhas impressões sobre o Milestone e o Android.

Até breve!
segunda-feira, janeiro 10, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Tenho a impressão de que o tempo deu uma bela acelerada em 2010. O ano passou depressa. Voou. E, no meu caso, teve boa parte de seus dias amputados pela rotina. Fiz muito do mesmo, em semanas de apenas dois dias: os tais dias úteis (que nem sempre foram úteis) e os fins de semana (esses sim, muito úteis!).

Trabalhei muito. Isso é bom e, mais que isso, necessário. Não posso me queixar. Mas, aqui para nós, o deslocamento para o trabalho em São Paulo foi uma via crucis. Horas e horas perdidas. Parado. Quando em veículo particular, menos mal. Desfrutei de certo conforto, a despeito do custo elevado. Fazer uso de transporte público, porém, foi um suplício lento, incômodo e incerto. Andei de trem, metrô e ônibus. Desisti do trem rapidinho... Tentei resgatar parte esse tempo em leituras, mantendo-me atualizado e planejando a aquisição de outro carro.

E as corridas de rua? Em 2010, corri pouco. "Nunca na história desse país" corri tão pouco. Míseros 901 quilômetros. Média de 75 quilômetros por mês... Que 2011 me seja mais favorável.

O lado bom de 2010 é que, em seus dias, desfrutei de paz em casa e na família. A saúde não vacilou e me esforcei para olhar mais para frente do que para trás. Acho que consegui e sei que posso melhorar.

E, olhando para frente, comecei 2011 desfrutando de merecidas férias. Hoje, por exemplo, em plena segunda-feira, estou aqui, teclando... Isso não tem preço!
terça-feira, janeiro 04, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Nem parece que é verão: garoa constante, céu cinzento e muita roupa de frio. Ontem pensei em correr, mas a combinação chuva e frio me inibiram. Hoje o cardápio permanece o mesmo e terei que encará-lo, se de fato desejo correr.

Muito paz por aqui. A pousada está vazia. Deserta. Silenciosa. Em cenário bucólico, ouve-se a voz do vento, dos passaros, da chuva. Não há muito o que fazer por aqui, além de descansar bastate. Logo mais darei outra volta pela cidade serrana de Campos do Jordão.

Comecei a ler o livro "1822", do mesmo autor de "1808", Laurentino Gomes. Livro interessante a respeito de um momento significativo para a história do Brasil - um país sem memória, para citar o autor.

Sabemos que a histórica não pode ser reescrita, mas pode ser recontada. Não se pode mudar os fatos, mas podemos amplicar o conhecimento a respeito deles e enxergá-los sob novas perspectivas. A história não muda, mas a nossa compreensão dela pode sim ser ampliada, revisada e até completamente alterada.

Laurentino reconstrói em seu livro o período em que o Brasil se declarou nação independente e o faz com clareza, transparência e eloquência. É uma leitura agradável e que recomendo a todos. Um bom remédio para nós, brasileiros, que padecemos do mal quase incurável de "amnésia" cultural.
domingo, janeiro 02, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Estive lá, desta vez para acompanhar um sobrinho que estreava na prova. Foi dada a largada e permanecemos juntos por uns cem ou duzentros metros e quando passei pela linha de largada já o havia perdido de vista. A partir dali segui meu caminho, ciente de minhas limitações físicas.

Já vivi momentos de grande empolgação em algumas São Silvestres. Desta vez, contudo, estava mais preocupado em concluir a prova sem andar e sem sentir dores. O tempo me ensinou a respeitar os limites do corpo. 2010 foi um ano em que treinei pouco. Não fui constante, por falta de tempo. Nesse aspecto, 2010 foi um ano frustrante.

Estranhamente, percebi que já era possível trotar assim que passava pela linha de largada. Havia uns 22 ou 23 mil inscritos, além dos penetras, mas a muvuca me pareceu menor.

Superei o primeiro quilômetro, na Av. Paulista, e comecei a percorrer o trecho em decida. Resolvi me poupar... O tempo foi passando como sempre. Muita gente apoiando e a multidão animada fluia como rio. Vencidos os cinco primeiros quilômetros, já no Elevado Costa e Silva (vulgo "milhocão"), percebi que fizera bem a lição de casa e estava inteiro, pronto para encarar os dez quilômetros restantes.

Meu ritmo era lento. Sabia que não adiantava forçar. Fui ultrapassado por crianças, idosos e fantasiados. Pensava em aumentar o ritmo para acompanhá-los, mas me continha e seguia em meu ritmo pangaré.

O tempo ajudou bastante. Céu nublado e temperatura amena. Nada de sol. Às vezes uma brisa fresca nos fazia esquecer que estamos no verão. Nessas condições favoráveis, eu corria com leveza e facilidade. Corria à moda antiga, sem a tecnologia que sempre me acompanha nos treinos e corridas. Sem GPS, sem frequencímetro, apenas um cronômetro, que me diza que meu ritmo era relativamente constante.

Agora já estava na Av. Rio Branco, no quilômetro dez e ainda me sentindo em ótimo estado, com reserva para encarar o trecho em subida e a famosa Brigadeiro.

De fato, não foi difícil subir a Brigadeiro. Mantive o ritmo e ainda dei um sprint na chegada, fechando em 01:19:48h e com a sensação agradável de ainda ter reserva para prosseguir correndo por mais uns cinco quilômetros. E isso que acontece quando, cientes de nossas limitações, respeitamos o corpo e corremos de maneira consciente.

Resumo:

Do quilômetro 1 ao 5 – Média de 05:26 min/km
Do quilômetro 6 ao 10 – Média de 05:20 min/Km
Do quilômetro 11 ao 15 – Média de 05:11 min/Km

Quando a meu sobrinho, ele terminou muito feliz e em menos de duas horas.
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